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Aliança para contornar a crise

O premiê demissionário Giuseppe Conte deve reassumir a chefia do governo, após três semanas de crise, à frente de uma coalizão entre um partido antissistema e um de centro-esquerda - tudo para barrar o caminho da ultradireita

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 29/08/2019 04:05

O presidente da Itália, Sergio Mattarella, convocou o primeiro-ministro demissionário Giuseppe Conte ao Palácio Quirinale, na manhã de hoje, para encarregá-lo formalmente de apresentar ao parlamento um novo governo e colocar um ponto final em três semanas de crise política. Desafiado por uma moção de desconfiança do ex-ministro do Interior, Matteo Salvini, líder da ultradireitista Liga, que pretendia provocar a convocação de eleições antecipadas, Salvini volta a chefiar um gabinete com o Movimento Cinco Estrelas (M5S), legenda de protesto que tem a maior bancada parlamentar. No lugar da Liga, entra como sócio na coalizão o Partido Democrático (PD, centro-esquerda).

Coube ao líder do PD colocar fim no suspense que cercava o último dia de consultas entre Mattarelli e os líderes das bancadas parlamentares. À saída, Nicola Zingaretti anunciou o acordo fechado com o M5S para a coalizão. ;Em tempos difíceis como os que vivemos, fugir à nossa responsabilidade de tentar (uma saída) é a única coisa que não nos podemos permitir;, afirmou. ;Achamos que vale fazer essa experiência.; Seu partido, herdeiro do histórico Partido Comunista Italiano (PCI), tem profundas discordâncias com o partido antissistema. Mas, como os novos aliados, coloca em primeiro lugar os esforços para obstruir a tentativa de Salvini de sair de eleições antecipadas como o maior partido e com a primazia para formar uma maioria e encabeçar o governo.

Às voltas com divisões internas, Zingaretti empenhou-se em caracterizar o acordo fechado com o M5S como ;um novo começo;, mais do que uma continuidade do governo anterior, entre M5S e Liga ; também sob a chefia do premiê hoje demissionário. ;Não se trata de um bis do gabinete Conte;, insistiu o líder do PD, ;mas de um governo que ponha fim a essa temporada de ódio e de medo;.

;Chegamos a um acordo político com o PD para formar uma nova maioria de governo;, confirmou o líder do M5S, Luigi di Maio, o último dos dirigentes convocados ao Quirinale. Ele classificou a manutenção de Conte como chefe de governo como ;uma garantia; para o partido, onde a aproximação com a centro-esquerda alimenta desconfianças. O comediante Beppe Grillo, fundador do partido, saiu a público para defender a formação de um gabinete com ministros ;de fora do meio político;.

O acordo de governo com o PD seguia submetido a votação na plataforma digital do M5S, para apreciação dos filiados, embora Di Maio tenha garantido a composição do governo. Uma nova reunião, marcada para hoje, definiria a composição do ministério e a questão do vice-premiê. O PD reivindicava o cargo, sob o argumento de que Conte, embora um independente, seria um nome afinado com a legenda de Grillo. A contraproposta feita a Zingaretti previa a indicação de um vice para cada partido ou a supressão do cargo.

Salvini
O líder da ultradireita, que viu fracassada a manobra para convocar os eleitores novamente às urnas, saiu do palácio presidencial manifestando ;o desconcerto dos italianos; com o que chamou de ;teatrinho indecoroso da guerra pelas cadeiras;. Matteo Salvini, que foi o vencedor das eleições europeias do fim de maio e aparece na liderança das pesquisas de opinião, previu vida curta para o novo gabinete da coalizão M5S-PD. ;A única coisa que eles têm em comum é o ódio pela Liga;, afirmou. ;Estão brigando antes mesmo de governar. Logo, vamos ter de votar.;

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