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Força pelas armas

Dias depois da retirada bilateral de pacto para controle de ogivas de alcance intermediário, a Rússia lança, pela primeira vez, míssil de alta precisão a partir de corveta no Mar Negro. Teste eleva a tensão com os EUA e coloca nações à beira de uma corrida nuclear

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 31/08/2019 04:05
Dias depois da retirada bilateral de pacto para controle de ogivas de alcance intermediário, a Rússia lança, pela primeira vez, míssil de alta precisão a partir de corveta no Mar Negro. Teste eleva a tensão com os EUA e coloca nações à beira de uma corrida nuclear


Foi uma advertência aos Estados Unidos de que, na aparente nova corrida armamentista, não há limites para um bombardeio russo. A Rússia lançou o míssil de cruzeiro de alta precisão ;Kalibr;, a partir da corveta ;Vichny Volochek;, no Mar Negro. O míssil foi disparado contra um alvo a cerca de 40 milhas náuticas (ou 74km). ;De acordo com simulações navais planejadas da Frota do Mar Negro, a corveta ;Vichny Volochek; disparou pela primeira vez mísseis Kalibr, de alta precisão, em um alvo no Mar Negro. Drones não tripulados registraram o ataque bem-sucedido ao alvo ; um grande escudo imitando um navio inimigo;, anunciou o Ministério da Defesa da Rússia, citado pela agência de notícias russa Itar-Tass.

Imagens de vídeo divulgadas pela agência de notícias Sputnik mostram toda a sequência do lançamento em seis ângulos diferentes, assim como a explosão no simulacro do navio registrada pelo drone. No último dia 18, os EUA testaram um míssil de alcance médio na Ilha de San Nicolas, na Califórnia, provocando forte condenação do Kremlin. O presidente russo, Vladimir Putin, ordenou ao seu governo ;uma resposta simétrica;.

Os dois países renunciaram ao Tratado de Armas Nucleares de Alcance Intermediário (INF, pela sigla em inglês), que bania a utilização de mísseis terrestres com alcance de 500km a 5.500km e capazes de transportar ogivas atômicas. Washington responsabilizou Moscou pela violação do INF, depois que as forças russas teriam desenvolvido o míssil 9M729, capaz de destruir alvos a 1.500km. No entanto, o Kremlin nega até mesmo a posse desse artefato.


Sinais
Em entrevista ao Correio, Daryl G. Kinball ; diretor executivo da organização não governamental Associação de Controle de Armas (em Washington) ; explicou a tensão provocada pelo lançamento do míssil ;Kalibr;. ;O Kremlin está simplesmente tentando sinalizar ao público doméstico e aos formuladores de políticas em Washington que a Rússia é forte e está pronta para confrontar os EUA, míssil por míssil, no que está se tornando uma corrida de armas nucleares;, afirmou.

De acordo com Kinball, os norte-americanos e os russos estão ;à beira de uma nova e dispendiosa corrida armamentista nuclear;. ;Principalmente se permitirem que o Novo Tratado de Redução de Armas Estratégicas (Start) expire em 2021;, sublinhou. ;Todos os líderes de nações, incluindo o presidente Jair Bolsonaro, deveriam pressionar Trump e Putin para prorrogar o tratado por cinco anos e para começar as negociações sobre um novo acordo, a fim de reduzir os estoques nucleares caros e inchados.;

Segundo a agência Itar-Tass, os testes com a Frota do Mar Negro são realizados no âmbito de um exercício militar de posto de comando em larga escala, entre 26 e 31 de agosto, em 12 faixas de treinamento ; em Rostov, Volgogrado, Astrakhan, Stavropol, Krasnodar e nas regiões da Crimeia e do norte do Cáucaso. Pelo menos 8 mil militares participam das manobras. Na última quinta-feira, três corvetas da Frota do Mar Negro, apoiadas por helicópteros Ka-276PL, se engajaram num teste de busca e destruição de um alvo imitando um submarino inimigo.


Russos se instalam em forte da Venezuela

O site de notícias Infobae publicou, ontem, que cerca de 80 russos e um pequeno grupo de cubanos se instalaram no Forte Kinimari, no povoado de Rubio (estado de Táchira). Desde o último dia 25, os moradores convivem com o barulho insiste de helicópteros militares. A primeira informação dava conta de que os russos foram ao local para montar equipamentos de radares e antenas bloqueadoras de sinais de telecomunicações, além de realizarem treinamentos de drones. Uma fonte militar disse ao Infobae que desertores que os reforços russos foram mobilizados ante a informação de inteligência segundo o qual desertores que apoiaram o presidente autoproclamado Juan Guaidó atacarão a Venezuela a partir da Colômbia e do Brasil.


Análise da notícia

Fantasma atômico

As armas nucleares foram usadas duas vezes apenas pelos Estados Unidos. A mortandade e o terror produzidos em Hiroshima e em Nagasáki são um lembrete para o mundo de que elas nunca mais deveriam ser usadas. Hoje, tais armamentos têm o objetivo da dissuasão e cumprem um papel estratégico na geopolítica internacional. Ao renunciarem ao Tratado de Armas Nucleares de Alcance Intermediário (INF, pela sigla em inglês), Rússia e Estados Unidos eliminam um dos principais mecanismos que impediam uma hecatombe. Os recentes testes de mísseis por Moscou e Washington sinalizam nova corrida armamentista. Para duas das maiores potências do planeta, o fantasma da Guerra Fria parece longe de ser exorcizado. Na exibição de músculos, tem mais força quem tem um arsenal mais poderoso. (RC)



Eu acho...


;Os Estados Unidos e a Rússia têm muito mais armas atômicas do que o necessário para impedir um ataque nuclear. Cada país possui 1.400 ogivas nucleares em mísseis de longo alcance e em bombardeiros. Mais do que o suficiente para acabar com a maior parte da vida no planeta. Não há vencedores em uma corrida armamentista nuclear.;


Daryl G.Kinball, diretor executivo da organização não governamental Associação de Controle de Armas (em Washington)


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