postado em 01/09/2019 04:05
O caos e a violência voltaram às ruas de Hong Kong ontem, em mais uma rodada de manifestações e confrontos com a polícia. A crise entre a ex-colônia britânica e a China continental já dura três meses e é considerada o desafio político mais grave enfrentado por Pequim desde 1997.
Ignorando a proibição da polícia, dezenas de milhares de manifestantes ocuparam o centro da região semiautônoma. ;Recuperar Hong Kong, a revolução de nossa época;, gritavam. No fim da tarde, a tensão aumentou quando um pequeno grupo atacou, com pedras e bombas incendiárias, policiais que estavam nas proximidades do complexo que abriga o Parlamento local, que foi invadido em 1 de julho. Eles conseguiram derrubar por alguns minutos as barreiras que protegem o prédio antes da repressão policial, com gás lacrimogêneo e jatos de água.
;As manifestações pacifistas não funcionam;, declarou uma jovem, de 22 anos, que se identificou apenas como Stone. ;Os radicais devem expressar sua revolta para obter algo;, justificou. ;Não vamos nos render;, adverte uma pichação em um muro da estação do metrô de Admiralty. Na região de Wanchai, no centro, a população incendiou uma enorme barricada formada por cadeiras arrancadas das arquibancadas de um estádio esportivo, perto do quartel-general da polícia.
As chamas foram controladas depois de 30 minutos. Mais cedo, um grupo protestou nas proximidades da residência da chefe do Executivo local, Carrie Lam, no Victoria Park. Lam concentra a revolta por não ter retirado formalmente da agenda o projeto de lei sobre as extradições para a China, o que detonou a mobilização, em junho.
Liberdade
Desde então, a mobilização ampliou a pauta de reivindicações, denunciando a crescente influência da China sobre Hong Kong e a perda das liberdades. ;É agora ou nunca;, afirmou um manifestante, que revelou apenas o primeiro nome, Wong. ;Tenho dois filhos que não vieram, mas a avó deles está aqui. Defendemos a manutenção do direito de manifestar para a próxima geração;, completou.
Os moradores do território recordaram ontem o quinto aniversário da rejeição de Pequim a organizar eleições com sufrágio universal em Hong Kong. A decisão desencadeou o Movimento dos Guarda-Chuvas de 2014, marcado por 79 dias de ocupação do centro financeiro e político da cidade. A mobilização histórica terminou sem qualquer concessão por parte do governo central chinês. Os manifestantes de 2019 estão decididos a não permitir a morte do movimento.
Na sexta-feira, cinco ativistas e três deputados foram detidos em uma operação policial. Entre eles, estão duas figuras centrais do Movimento dos Guarda-Chuvas: Joshua Wong e Agnes Chow, ambos de 22 anos, que foram detidos e acusados por ;incitação a participar em uma concentração não autorizada;. Horas mais tarde, eles foram libertados após o pagamento de fiança.