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Boris Johnson ameaça realizar expurgo em semana crucial para o Brexit

A decisão desencadeou uma onda de indignação e protestos em massa em todo o país durante o fim de semana

Agência France-Presse
postado em 02/09/2019 09:07
Primeiro-ministro britânico, Boris Johnson.O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, ameaçou excluir os deputados conservadores que se aliarem à oposição para impedir uma saída brutal da União Europeia (UE), no início de uma semana crucial na crise do Brexit.

Carismático e polêmico, Johnson chegou ao poder no final de julho, em substituição a Theresa May, e assegurou que vai retira o país da UE em 31 de outubro, com ou sem acordo.

Na semana passada, ele anunciou a suspensão do Parlamento entre a segunda semana de setembro e 14 de outubro, oficialmente para permitir que o novo Executivo apresente seu programa de política nacional, mas que seus detratores denunciam como uma manobra para impedir qualquer ação contra um Brexit brutal.

A decisão desencadeou uma onda de indignação e protestos em massa em todo o país durante o fim de semana sob o lema "Parem o golpe de Estado".

A Câmara dos Comuns retorna do recesso de verão na terça-feira e vários deputados conservadores declararam-se dispostos a votar com a oposição para aprovar uma lei urgente obrigando o Executivo a solicitar um novo adiamento se não houver acordo no final de outubro.

"Primeiro-ministro adverte os deputados rebeldes: apoiem-me ou estarão fora": esta é a manchete do Daily Telegraph nesta segunda-feira, enquanto o jornal The Guardian afirma que "Johnson está disposto a sacrificar sua maioria" expulsando os rebeldes de seu grupo parlamentar.

O governo tem uma maioria parlamentar de apenas um deputado - contando com os 10 do partido unionista norte-irlandês DUP -, então a ameaça alimentou especulações sobre a iminência de eleições legislativas antecipadas.

"Francamente, não parece haver um grande esforço para convencer (os rebeldes) a apoiar o governo nesta semana. Acho que estão preparados para uma rebelião e expurgo", comentou à rádio BBC o ex-ministro da Justiça David Gauke, um dos conservadores que se opõe a um Brexit sem acordo.

Os Tories que votarem contra o governo, como ele mesmo e vários de seus ministros fizeram este ano contra Theresa May, não vão poder disputar novas eleições, alertou Johnson.

De acordo com uma nova pesquisa do YouGov, realiza daapós a decisão de suspender o Parlamento, 62% dos eleitores classificaram Johnson como "determinado", 23 pontos a mais que no mês anterior - bem acima dos 5% de May- e 40% como "competente", um aumento de 11 pontos.

Quanto às intenções de voto, os conservadores têm 33% contra 22% para os trabalhistas, 21% para os liberais-democratas e 12% para o Partido do Brexit.

Preparando-se para a sessão parlamentar de terça-feira, o líder do Partido Trabalhista - a principal formação de oposição - Jeremy Corbyn reuniu seus colaboradores mais próximos nesta segunda-feira em Salford, no noroeste da Inglaterra.

"Trabalharemos com outras partes para fazer todo o necessário para afastar nosso país do precipício", deve afirmar, segundo um trecho de seu discurso divulgado previamente.

Entre as medidas possíveis, os trabalhistas consideram entrar com uma moção de censura contra o governo Johnson, embora a ideia pareça estagnada porque os outros partidos da oposição não confiam em Corbyn para liderar um governo interino.

Provavelmente, a já apelidada "aliança rebelde" recorrerá a um procedimento técnico chamado "Standing Order 24" para retirar do governo o controle da agenda parlamentar e tentar votar uma lei que exija um novo adiamento do Brexit, inicialmente programado para março de 2019 e estendido duas vezes.

Não é garantido que a iniciativa receberá o apoio necessário, mas o ministro Michel Gove já sugeriu que, mesmo que aprovem tal lei, o governo pode não cumpri-la.

Enquanto isso, Johnson acelerou os contatos com Bruxelas em uma renegociação do acordo assinado por May.

"Não estou otimista sobre a possibilidade de evitar um Brexit sem acordo", escreveu no domingo o negociador-chefe europeu, Michel Barnier, em um artigo publicado no Sunday Telegraph.

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