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Brexit ou eleições

Boris Johnson, primeiro-ministro britânico, ameaça expulsar parlamentares conservadores que votarem hoje contra um divórcio da União Europeia sem acordo. Premiê adverte que, em caso de derrota, convocará pleito geral para 14 de outubro

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 03/09/2019 04:06
Boris Johnson, primeiro-ministro britânico, ameaça expulsar parlamentares conservadores que votarem hoje contra um divórcio da União Europeia sem acordo. Premiê adverte que, em caso de derrota, convocará pleito geral para 14 de outubro

"Eu não quero uma eleição, vocês não querem uma eleição;


;Eu quero que todos saibam que em circunstância alguma pedirei a Bruxelas um adiamento (do Brexit);

Boris Johnson, primeiro-ministro do Reino Unido




Não bastou suspender a Câmara dos Comuns, a câmara baixa do Parlamento, para dificultar a aprovação de pacto sobre o Brexit ; a saída do Reino Unido da União Europeia (UE). Horas depois de ameaçar um expurgo de parlamentares conservadores que votarem contra um divórcio sem acordo, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, avisou que declarará eleições legislativas antecipadas para 14 de outubro, se o Parlamento impuser uma derrota ao governo. A expectativa é de que vários deputados tories (conservadores) votem com a oposição, hoje, em prol do adiamento do Brexit. Eles esperam postergar a separação até 31 de janeiro. ;Eu não quero uma eleição, vocês não querem uma eleição;, declarou o premiê.

Johnson advertiu que, caso os tories escolham bloquear o chamado Brexit duro (sem acordo), ;claramente cortarão as pernas da posição do Reino Unido;. A impressão dentro do próprio governo é a de que uma derrota nesta terça-feira ;destruiria; sua capacidade de negociação e tornaria impossível Londres costurar um pacto com Bruxelas.

O primeiro-ministro também reiterou que não pedirá um novo adiamento do Brexit ; o prazo para o divórcio expira em 31 de outubro, com ou sem acordo. ;Eu quero que todos saibam que em circunstância alguma pedirei a Bruxelas um adiamento (do Brexit);, afirmou. De acordo com a emissora britânica BBC, os parlamentares podem tentar introduzir uma legislação para frustrar um Brexit sem acordo; convocar um voto de desconfiança contra Johnson; ou permitir que o governo tente negociar um novo pacto com a União Europeia.

Antes de uma reunião de emergência de seu gabinete, Johnson admitiu que as chances de um acordo aumentaram. ;Mas, se há algo que pode nos impedir nessas negociações, é a sensação em Bruxelas de que os deputados podem encontrar uma maneira de cancelar o referendo, ou que amanhã (hoje) os deputados votem com o (opositor) Jeremy Corbyn a favor de outro adiamento sem significado;, explicou o premiê. ;Se fizerem isso, toda nova negociação será absolutamente impossível;, acrescentou. Corbyn, líder do Partido Trabalhista, acusou o chefe de governo de ameaçar a própria população. ;O que Boris Johnson fez foi essencialmente ameaçar o povo. Ameaçar o povo com um Brexit sem acordo, se ele não conseguir o que deseja no Parlamento. Nós os desafiaremos no Parlamento amanhã (hoje), e continuaremos com esse desafio;, prometeu o opositor.





Escolha
Para Thomas Eason, doutorando da Faculdade de Política e de Relações Internacionais da Universidade de Nottingham (Reino Unido), todos os indicadores apontam que Johnson se prepara para eleições antecipadas. ;A questão real é se ele tentará convocar o pleito (isso requer maioria de dois terços na Câmara dos Comuns) ou se os parlamentares da oposição buscarão forçar um voto de desconfiança (o qual exige maioria simples. A resposta é incerta. Os parlamentares da oposição que pretendem bloquear o Brexit não têm muito tempo para agir;, disse ao Correio. O especialista lembra que um número cada vez maior de deputados apoia a permanência na UE. ;À medida que o tempo passa, um Brexit sem acordo parece o resultado mais provável desse fiasco.;

Eason reforça que o expurgo de parlamentares contrários ao Brexit duro pode ser contraproducente e prejudicar o próprio governo. Isso porque, segundo ele, o premiê detém maioria ínfima na Câmara dos Comuns. ;Em caso de rebelião de alguns deputados, tal maioria desaparecerá. A expulsão de conservadores significaria a remoção da maioria governista e minaria a capacidade de Johnson de governar;, explicou. O analista acredita que tal manobra aumenta a expectativa de que o premiê estaria pronto para uma eleição, na expectativa de reconquistar esta maioria.

Por sua vez, Anthony Glees ; professor da Universidade de Buckingham ; espera que Johnson firme um novo acordo com Bruxelas antes de 31 de de outubro. ;Ele pretende se manter como premiê pelos próximos 10 ou 20 anos. A curto e a médio prazos, especialmente no caso de um Brexit sem acordo, a escassez de alimentos e de medicamentos arruinará as suas chances de ganhar uma eleição;, afirmou à reportagem. ;O Reino Unido é um país onde pessoas telefonam para a polícia se o entregador da pizza se atrasa por 10 minutos. A escassez de alimentos por uma semana causará inquietação social significativa.; Glees acredita que Johnson tem cometido muitos erros e cita a suspensão do Parlamento como o mais grave. ;A soberania parlamentar é um princípio da Constituição do Reino Unido e torna o Parlamento a autoridade legal suprema. Johnson atacou o sistema e causou profundo embaraço na rainha Elizabeth II. Isso não é nada bom.;



Pontos de vista


Por Thomas Eason

Divórcio litigioso

;O premiê afirmou que um acordo é possível, mas foi enganoso ao dizer isso. O Reino Unido e a União Europeia (UE) negociaram um pacto para o divórcio, durante o governo de Theresa May. O Parlamento rejeita o acordo, e a UE tem sido clara que não está disposta a negociar novo pacto. Por isso, restam as opções de permanência no bloco ou de Brexit sem acordo. Se os parlamentares não aprovarem o acordo, o Reino Unido sairá da UE sem um pacto. Esta parece a opção preferida de Johnson.;

Doutorando da Faculdade de Política e de Relações Internacionais da Universidade de Nottingham (Reino Unido)




Por Andrew Blick

Aposta nas urnas

;Johnson ameaça os deputados com uma eleição antecipada se votarem em um projeto de lei destinado a bloquear o Brexit sem acordo. Para ele, uma eleição geral antecipada pode não ser uma perspectiva ruim, pois há pelo menos uma chance de que o premiê ganhar maioria absoluta. A maior preocupação para Johnson é perder votos no Parlamento, especialmente na Câmara dos Comuns. Sua posição no Partido Conservador parece, pelo menos por agora, segura. ;

Diretor do Centro para Política e Governo Britânicos e do Departamento de História e Política do King;s College London




Por Anthony Glees

Alienação partidária

;A ideia de expurgo de parlamentares conservadores, por parte de Boris Johnson, foi tola. Principalmente pelo fato de a maior parte de seu gabinete ter votado contra o próprio partido. O premiê parece pronto a arriscar uma ruptura com o Partido Conservador, e isso não será bom para a moral da legenda. Ao mesmo tempo, Johnson terá fortalecido a oposição entre os conservadores. O primeiro-ministro tem sido criticado pelos adeptos de um Brexit sem acordo, pelos simpatizantes do Brexit e por aqueles que desejam a permanência no bloco.;

Professor da Universidade de Buckingham (Reino Unido)



Por Rob Dover

Manobra esperta

;Foi uma manobra esperta de Johnson. A oposição deverá apoiar a eleição, e ela tem acenado positivamente em relação a isso. No entanto, uma eleição em outubro seria apresentada como uma escolha binária entre o Brexit e um governo de Jeremy Corbyn (algo que não atrairá um imenso apoio). A noção de um acordo ser algo possível é ilusória: nem Johnson nem sua equipe de conselheiros desejam isso. É difícil determinar se Johnson está incitando os parlamentares a encerrar o governo e forçar uma eleição, ou se ele tenta enfrentar os rebeldes.;

Professor de inteligência e segurança nacional pela Universidade de Leicester




33%
Intenção de votos para os conservadores em uma eventual eleição, contra 22% para os trabalhistas, segundo pesquisa do instituto YouGov


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