Agência France-Presse
postado em 03/09/2019 22:11
A oposição britânica e os rebeldes do governista Partido Conservador contrários a um Brexit sem acordo deram um duro golpe, nesta terça-feira, no primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, que pode levar a iminentes eleições antecipadas.
Os legisladores voltaram ao trabalho após o recesso, muitos deles determinados a impedir uma saída abrupta da União Europeia (UE) em 31 de outubro.
O clima estava acirrado pelo anúncio de Johnson, na semana passada, de que suspenderia os trabalhos do Parlamento a partir de meados de setembro até 14 de outubro - o que seus críticos denunciaram como uma estratégia para impedir sua ação.
Para isso ser possível, os deputados precisaram tirar do governo o controle da agenda parlamentar. E, na noite desta terça, conseguiram com uma maioria confortável: 328 votos contra 301.
Ao todo, 21 deputados conservadores votaram com a oposição. Os rebeldes serão expulsos do partido, como Johnson tinha prometido.
Horas antes, seu Executivo tinha perdido sua estreita maioria parlamentar depois que o deputado conservador Phillip Lee desertou para as fileiras dos Partido Liberal Democrata, pró-UE.
Com cartazes que diziam "Parem o golpe de Estado" e "Defendam nosso Parlamento", centenas de manifestantes protestaram em frente ao Palácio de Westminster.
- ;A única forma de resolver; -
Apesar de garantir que não quer eleições, o primeiro-ministro tinha ameaçado com eleições antecipadas em meados de outubro se os rebeldes votassem contra o governo.
Nesta terça, após a votação, concretizou a proposta imediatamente: "Vamos apresentar a moção (que convoca as eleições) nesta noite".
"Não quero que haja uma eleição, mas se os deputados votarem amanhã para deter as negociações e pedir outro atraso inútil do Brexit, que poderia durar anos, então (uma eleição) será a única forma de resolver" a situação, ameaçou Boris Johnson após a votação.
Jeremy Corbyn, líder do Partido Trabalhista, principal força da oposição, criticou diante dos deputados "um governo sem mandato, sem moral e, a partir de agora, sem maioria" e disse estar pronto para eleições legislativas.
O governo tinha justificado a data da eleição de 14 de outubro alegando a necessidade de um novo mandato perante o Conselho Europeu em 17 e 18 de outubro, no qual ele espera que a UE concorde em modificar o Tratado de Retirada assinado por Theresa May e rejeitado três vezes pelo Parlamento.
A UE declarou-se aberta ao diálogo, mas não parece provável que modifique o acordo, especialmente seu ponto mais conflituoso: como evitar uma nova fronteira na ilha da Irlanda que ameace o frágil processo de paz.
Segundo uma porta-voz da Comissão Europeia, Bruxelas continua esperando por "propostas concretas" de Londres.
O vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence, que estava em Dublin, pediu na terça-feira para "a Irlanda e a União Europeia negociarem de boa-fé com o primeiro-ministro britânico".
Johnson anunciou que na segunda-feira fará sua primeira visita à República da Irlanda, para conhecer seu colega Leo Varadkar.
- Custo financeiro -
Minutos após a derrota de Johnson, o governo britânico anunciou nesta terça-feira que ; 2 bilhões (US$ 2,4 bilhões) adicionais serão usados no financiamento do Brexit.
O ministro de Finanças, Sajid Javis, vai detalhar aos deputados nesta quarta-feira os gastos deste valor, que deve ser usado no ano seguinte à saída do bloco, para financiar fronteiras e infraestrutura portuária, entre outros.
Mais cedo, nesta terça, um estudo da Conferência das Nações Unidas sobre o Comércio e Desenvolvimento (Cnuced), da ONU, apontou que a saída da UE em "um Brexit sem acordo causaria aos britânicos prejuízos em exportações de, pelo menos, 16 bilhões de dólares, o que representa 7% das exportações totais do Reino Unido para o bloco".
Os economistas destacaram que "é uma estimativa conservadora", já que os prejuízos devem ser "muito mais significativos", devido à introdução de "medidas não tarifárias, controles fronteiriços e interrupção das redes de produção" existentes entre Reino Unido e UE.
Diante da instabilidade política, a libra esterlina caiu a seu nível mais baixo em três anos, nesta terça, antes de recuperar terreno. A divisa britânica já perdeu quase 20% de seu valor desde o referendo sobre o Brexit de junho de 2016 e 2,4% na última semana.