Agência France-Presse
postado em 04/09/2019 17:28
Joanesburgo, África do Sul - África do Sul e Nigéria mobilizaram forças policiais nesta quarta-feira (4/9) após vários dias de uma onda de violência xenófoba que começou em Joanesburgo e acabou se propagando para cidades nigerianas.Embora a violência estivesse diminuindo, a tensão aumentava na frente diplomática, depois de que a Nigéria anunciou que boicotaria o Fórum Econômico Mundial da África, que começou nesta quarta na Cidade do Cabo (sudoeste), e de que outros países africanos pediram para Pretória tomar medidas para acabar com estes ataques.
O balanço de mortos subiu para sete, após terem sido encontrados dois corpos queimados em uma loja no "township" de Alexandra, em Joanesburgo, informou a Polícia. Cerca de 300 pessoas foram detidas.
O centro de Joanesburgo e o de Alexandra pareciam tranquilos, no entanto, com os reforços das patrulhas policiais, indicaram jornalistas da AFP. Os estabelecimentos comerciais foram abrindo as portas, e vários habitantes reviravam os escombros dos negócios saqueados em busca de comida e de outros objetos.
Nesta quarta-feira, o presidente Cyril Ramaphosa voltou a condenar os distúrbios que começaram no domingo em Joanesburgo e depois se propagaram para Pretória, a capital política, e para a província de KwaZulú-Natal (leste).
"Atacar os estrangeiros não é uma boa atitude", disse o presidente antes do Fórum Econômico Mundial da África.
Até sexta-feira, são esperadas dezenas de chefes de Estado e muitos empresários para este evento.
"Todo mundo é bem-vindo à África do Sul", afirmou o presidente do país, que teve Nelson Mandela como mentor.
Desde que os distúrbios começaram, no domingo, dezenas de lojas foram destruídas, e caminhões supostamente dirigidos por estrangeiros, queimados.
Preocupação continental
A onda de violência preocupa os países africanos, que têm muitos de seus cidadãos trabalhando na África do Sul.
Na Nigéria, a segurança foi reforçada em volta das lojas de marcas sul-africanas pelos chamados ao boicote e à violência.
Nesta quarta, dezenas de agentes de segurança rodearam o shopping de Jabi Lake, no centro da capital, Abuja, onde há um grande supermercado da marca sul-africana Shoprite. Apenas os funcionários eram autorizados a passar, de acordo com jornalistas da AFP no local.
Na terça-feira, várias pessoas tentaram saquear dois supermercados desta rede em Lagos, a capital econômica nigeriana.
O gigante sul-africano MTN, líder das telecomunicações na África, anunciou nesta quarta-feira que estava fechando suas lojas na Nigéria, seu maior mercado, após uma série de ataques a suas lojas como resposta à violência xenófoba que se propaga na África do Sul.
Vários cantores nigerianos, como Davido, Teni, Tiwa Sawage e Burna Boy, condenaram a violência xenófoba. "Não voltarei à África do Sul até que o governo acorde", disse Burna Boy, uma estrela em todo continente.
"Perdi tudo"
Em Zâmbia, cerca de mil estudantes se manifestaram nesta quarta-feira (4/9) em frente à embaixada sul-africana em Lusaka com cartazes de "Não à xenofobia". O presidente do país, Edgar Lungu, pediu à África do Sul que "ponha fim à matança", antes que a xenofobia "degenere em genocídio em grande escala".
Em Alexandra, os comerciantes estrangeiros registravam nesta quarta-feira o balanço das destruições.
"Perdi tudo", disse Ashi Ashfaq, um paquistanês que mora há 25 anos na África do Sul e que perdeu três de suas seis lojas, queimadas. "Me sinto tão mal que nem consigo comer", disse.
"É a primeira vez que acontece. Antes não queimavam as lojas, só roubavam. Quando queimam as lojas, você perde tudo", lamentou.
Primeira potência industrial do continente, a África do Sul vive com frequência ondas de violência xenófoba alimentada pelas altas taxas de desemprego.
Em 2015, sete pessoas morreram durante os saques a estabelecimentos de estrangeiros em Joanesburgo e Durban (leste). Em 2008, o mesmo tipo de violência deixou 62 mortos no país.
Desde março de 2018, dezenas de caminhoneiros morreram em ataques contra estrangeiros, segundo um informe de agosto da organização Human Rights Watch (HRW).