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Informe defende as crianças

Departamento de Saúde dos Estados Unidos admite que a política de "tolerância zero" nas fronteiras e a separação de famílias causaram "experiências traumáticas" para os menores que ficaram afastados dos pais

postado em 05/09/2019 04:06
Menina hondurenha de 2 anos chora enquanto a mãe é revistada, no Texas
Desde ontem, é o Departamento de Saúde dos Estados Unidos que reconhece, em relatório oficial, o impacto social da política de separar dos pais crianças que chegam à fronteira como migrantes ilegais. O informe admite que muitos desses menores carregam a marca de ;experiências traumáticas; e aponta os custos políticos do ;sofrimento psicológico; impingido a eles pela política de ;tolerância zero; com a imigração adotada pelo presidente Donald Trump.

Em 2018, ele determinou que essa orientação fosse aplicada na fronteira com o México, pressionada pela chegada de caravanas de centro-americanos que cruzaram a pé as estradas mexicanas para pedir asilo nos EUA. A maioria fugia da pobreza e da criminalidade nos países de origem. A política adotada pela Casa Branca resultou na separação de centenas de famílias, já que os menores não podem ficar detidos com adultos e, a partir de um limite legal sob custódia, devem ser encaminhados para centros de acolhimento ; em geral, distantes dos locais onde os pais estavam reclusos.

;As crianças separadas mostraram mais medo, sentimento de abandono e de estresse pós-traumático do que as crianças que não haviam sido separadas;, diz o informe do Departamento de Saúde. O texto se baseia em visitas feitas por suas equipes a 45 centros de acolhida para menores migrantes, em meados de 2018. ;Alguns expressavam uma dor aguda e choravam sem parar;, descreve o relatório. ;Outros se negavam a comer ou a participar de atividades;, e os que não entendiam por que estavam separados dos pais ;sofreram altos níveis de angústia mental;.

A tragédia sofrida por essas famílias, oriundas principalmente da Guatemala, de Honduras e de El Salvador, gerou preocupação inclusive nas fileiras do Partido Republicano, de Trump. O presidente pôs fim a essa política em junho, enquanto um juiz ordenava a reunificação das famílias divididas. À época, as autoridades identificaram mais de 2.700 crianças que deveriam ser reunidas com os pais.

Em paralelo, foram endurecidas as normas para a entrega de migrantes menores a ;patrocinadores; nos EUA, o que alongou a duração da estada dessas crianças e adolescentes nos centros de acolhida do Departamento da Saúde. Em novembro de 2018, foi registrada uma média de 93 dias sob custódia. Essa demora gerou ;mais desconfiança, desesperança e frustração entre as crianças, com mais casos de mutilação ou ideias suicidas.

Os profissionais da Saúde alegam não dispor de recursos e comparam sua ação à aplicação de ;um curativo simples; para curar ;feridas profundas;. O texto propõe um reforço no treinamento do pessoal e o acesso a psiquiatras externos, assim como a transferência dos casos mais graves para estruturas especializadas.

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