Agência France-Presse
postado em 05/09/2019 11:38
Apesar da manutenção das tarifas punitivas entre China e Estados Unidos, o governo de Pequim anunciou nesta quinta-feira (5) que novas negociações acontecerão em outubro, no momento em que a guerra comercial começa a afetar as duas economias.
O principal negociador chinês, Liu He, reuniu-se nesta quinta com o representante americano para o Comércio (USTR), Robert Lighthizer, e o secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, informou o Ministério chinês do Comércio.
A reunião aconteceu cinco dias depois da entrada em vigor de novas tarifas mútuas. O governo dos Estados Unidos aplicará até meados de dezembro taxas sobre quase todos os produtos importados da China.
A China respondeu com o aumento de tarifas de importação em 75 bilhões de dólares sobre produtos americanos.
Pequim também anunciou esta semana que apresentou uma reclamação na Organização Mundial do Comércio (OMC) contra as novas sanções americanas.
Na terça-feira, a tensão voltou a subir entre os dois países. Donald Trump ameaçou Pequim com uma guerra comercial se for reeleito em 2020.
O presidente dos EUA prevê uma hemorragia de empregos na China, mas sem levar em consideração o fato de que muitas empresas em seu país também sofrem as consequências de sua política protecionista.
Os economistas do Peterson Institute for International Economics, um centro de estudos com sede em Washington, questionam as afirmações de Trump. De acordo com um relatório, o emprego no setor manufatureiro na China caiu no ano passado, "mas a um ritmo mais lento do que em 2014-2017, antes da imposição das tarifas".
"A destruição de empregos diretamente atribuível à guerra comercial parece ser mínima", aponta o estudo.
O conflito comercial entre Pequim e Washington começou no ano passado e está ameaçando o crescimento das duas principais economias mundiais.
"A progressiva mas contínua escalada do desacordo comercial entre China e Estados Unidos já prejudica a atividade econômica nos dois países e no resto do mundo", alertou George Zhu, da agência de classificação financeira Moody;s.
Nos últimos dias, vários organismos já reduziram as previsões de crescimento para a China em 2020, a menos de 6% (contra 6,6% de 2018), o que seria o ritmo de crescimento mais lento em quase 30 anos.
A atividade manufatureira na China registrou desaceleração novamente em agosto, de acordo com números oficiais, em um contexto de demanda interna menor.
Sinal da pressão sobre a economia, Pequim anunciou na quarta-feira novas medidas de estímulo após uma reunião liderada pelo primeiro-ministro Li Keqiang.
O governo chinês solicitou ao Banco Central uma redução do nível de reservas obrigatórias dos bancos para facilitar os empréstimos às pequenas e médias empresas, as mais dinâmicas na criação de empregos, mas que não têm acesso aos créditos, ao contrário dos grandes grupos públicos, pouco rentáveis.
Nos Estados Unidos, centenas de empresas e grupos profissionais advertiram o governo Trump, em agosto, sobre o temor das consequências para o emprego no caso de novas tarifas sobre produtos chineses.
A incerteza sobre a guerra comercial já afeta a atividade do setor manufatureiro americano, que registrou contração em agosto pela primeira vez em três anos.