Agência France-Presse
postado em 06/09/2019 10:32
Determinado a obter eleições antecipadas para superar a situação de bloqueio do Brexit, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, visitou nesta sexta-feira (6) a Escócia em um ambiente de pré-campanha, mas cada vez mais abalado pelas derrotas no Parlamento e a renúncia de seu irmão.
Johnson visitou uma fazenda na região norte do país ao fim de uma semana intensa, na qual o governo perdeu a maioria parlamentar, viu a aprovação de uma lei que o obrigaria a solicitar outro adiamento do Brexit e em que os deputados votaram contra a opção de eleições gerais.
O objetivo era anunciar uma importante ajuda financeira para os agricultores escoceses após o Brexit, um ato com toda pinta de campanha eleitoral.
"Não acredito que teremos um Brexit sem acordo. Tenho confiança em conseguir um acordo na reunião europeia de 17 de outubro", declarou ao canal Sky News durante a visita à área rural.
Porém, Antti Rinne, primeiro-ministro da Finlândia, país que preside atualmente a União Europeia (UE), afirmou quase ao mesmo tempo que, pelo caos político no Reino Unido, "não parece agora possível" alcançar um acordo até o fim de outubro.
No campo judicial, Johnson obteve uma vitória: o Alto Tribunal de Londres rejeitou nesta sexta-feira uma ação contra sua decisão de suspender as atividades do Parlamento a partir da próxima semana e até 14 de outubro, duas semanas antes da data prevista para o Brexit.
A ação, apresentada pela empresária e ativista anti-Brexit Gina Miller com o apoio de vários pesos pesados políticos - entre eles o ex-primeiro-ministro conservador John Major -, foi rejeitada como já havia acontecido na quarta-feira com uma demanda similar apresentada em Edimburgo.
Uma terceira demanda contra a suspensão parlamentar, apresentada na Irlanda do Norte, ainda será examinada.
Miller - que em 2017 venceu uma importante batalha judicial sobre o Brexit contra o governo de Theresa May - anunciou que vai recorrer à Suprema Corte em 17 de setembro.
"Minha equipe legal e eu não abandonaremos a luta pela democracia", declarou.
Brexit "divide as famílias"
Johnson recebeu duros golpes esta semana.
No plano pessoal, seu irmão mais novo, Jo Johnson, renunciou ao cargo de secretário de Estado para a Ciência e ao posto de deputado. Ele alegou a "tensão irresolúvel entre a lealdade familiar e o interesse nacional".
O primeiro-ministro parece ter ficado abalado e afirmou que "Jo é um cara fantástico".
"Mas não concorda comigo sobre a União Europeia, porque é um tema que obviamente divide as famílias", declarou, sem esconder a emoção.
No Parlamento, 21 deputados conservadores se rebelaram contra Johnson e o deixaram em minoria. Além disso, a oposição votou contra a proposta do chefe de Governo de eleições legislativas em 15 de outubro.
Seis semanas depois de chegar a Downing Street, Johnson está encurralado, sem maioria e incapaz de cumprir sua grande promessa de retirar o país da UE em 31 de outubro a qualquer custo.
Na segunda-feira o Parlamento organizará uma nova votação sobre a possibilidade de antecipar as eleições, mas não parece que Johnson conseguirá obter o apoio necessário, já que a oposição desconfia de uma possível "armadilha".
O primeiro-ministro "demonstrou ser um mentiroso manifesto e alguém que disse que prefere morrer em uma vala a impedir um Brexit sem acordo", afirmou à rádio BBC a trabalhista Emily Thornberry.
Ela garantiu que a principal força de oposição voltará a votar contra as eleições enquanto o novo adiamento do Brexit não for solicitado à UE e concedido pelo bloco, possivelmente na reunião de cúpula de de 17 e 18 de outubro.
Nesta sexta-feira, a lei que exige o adiamento deve ser aprovada na Câmara dos Lordes, antes de retornar na segunda-feira à Câmara dos Comuns.