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"Bibi" promete anexar colônias

A uma semana de disputar um novo mandato, após uma eleição sem vencedores, premiê direitista acena com ofensiva sobre território ocupado na Cisjordânia. Palestinos protestam contra violação do direito internacional

postado em 11/09/2019 04:06
O premiê Netanyahu (C) na reunião semanal do gabinete: aposta no apoio dos colonos da Cisjordânia para ganhar votos à direita


A exatamente uma semana das eleições legislativas, o primeiro-ministro de Israel, o direitista Benjamin Netanyahu, prometeu ontem que anexará áreas estratégicas do território palestino da Cisjordânia, se for eleito para um novo mandato. ;Se receber de vocês, cidadãos de Israel, um claro mandato... Hoje declaro a intenção de aplicar, em um futuro governo, a soberania de Israel sobre o Vale do Jordão e a parte norte do Mar Morto;, declarou o premiê em entrevista coletiva em Ramat Gan, perto de Tel Aviv.

O Vale do Jordão representa cerca de 30% da Cisjordânia, território palestino ocupado por Israel desde 1967. ;Bibi;, como é chamado pelos correligionários, quer anexar o território ocupado por colônias judaicas, correspondente a 90% do do Vale do Jordão, ;mas não vilarejos ou cidades árabes, como Jericó;, ressalvou.

O plano não afetará ;um único palestino;, garantiu Netanyahu, que disse querer aproveitar a proposta de paz a ser anunciada pelos Estados Unidos para anexar outras colônias. Espera-se que o governo americano, firme defensor de Israel desde que Donald Trump assumiu o poder, no início de 2017, apresente detalhes de seu plano de paz para a região após as eleições israelenses.

Esse projeto será ;uma oportunidade histórica e única de aplicar nossa soberania sobre as colônias (judaicas) na Judeia e Samaria (denominação hebraica para a Cisjordânia) e em outros lugares-chaves para a nossa segurança, o nosso patrimônio e o nosso futuro;, afirmou Netanyahu.

Colonização
A poucos dias das eleições legislativas de abril passado, Netanyahu tinha prometido anexar o território ocupado pelos assentamentos judaicos. Apesar de violar o direito internacional, a colonização da Cisjordânia e de Jerusalém Oriental se manteve sob todos os governos israelenses desde 1967. Nos últimos anos, com o impulso de Netanyahu e de seu aliado em Washington, ela se acelerou.

O projeto do líder do partido de direita nacionalista Likud foi recebido como um novo golpe pelos palestinos. ;É uma violação flagrante do direito internacional. É um roubo de terra flagrante. É limpeza étnica. Destrói não apenas a solução de dois Estados, mas qualquer chance de paz. Isso muda a situação;, denunciou à agência de notícias France-Presse Hanan Ashrawi, dirigente da Organização para a Libertação da Palestina (OLP). ;A Palestina está sendo erradicada;, protestou. ;Netanyahu está em busca dos votos da extrema direita, vendendo para seu público a ilusão de que pode ocupar terras palestinas para sempre;, afirmou Hazem Qassem, porta-voz do movimento islamista palestino Hamas.

Cortejando o eleitorado das colônias judaicas, que defende a anexação da Cisjordânia, Netanyahu está lado a lado com o rival mais próximo, o ex-chefe do Estado-Maior do Exército Benny Gantz, líder do partido de centro-direita Azul e Branco, que também preconiza a anexação do Vale do Jordão. ;Estamos honrados em ver que Netanyahu adota o nosso plano. Mas a propaganda dele para o povo israelense chegará ao fim em 17 de setembro;, reagiu a legenda de Gantz.


;É um roubo de terra flagrante. É limpeza étnica. Destrói não apenas a solução de dois Estados, mas qualquer chance de paz;
Hanan Ashrawi, dirigente palestina

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