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Pressão social sobre Macri

Com manifestantes acampados diante do Congresso, deputados prorrogam a Lei de Emergência Alimentar e colocam governistas na defensiva. Oposição lidera a corrida para a eleição presidencial de outubro

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 13/09/2019 04:06
Movimentos sociais no centro de Buenos Aires: aumento da pobreza atinge a popularidade do presidente a um mês e meio da luta pela reeleição
A seis semanas da crucial eleição presidencial de 27 de outubro, em que o direitista Mauricio Macri entra como azarão na briga pelo segundo mandato, a Câmara dos Deputados da Argentina aprovou ontem por unanimidade a prorrogação até 2022 da Lei de Emergência Alimentar, em vigor desde 2002. O texto teve 222 votos favoráveis e uma abstenção, e segue para ratificação do Senado. Ele prevê aumento de 50% nos programas de assistência aos necessitados, com recursos da ordem de US$ 135 milhões. Do lado de fora do Congresso e diante da sede de alguns ministérios, no centro de Buenos Aires, movimentos sociais desafiaram a ação das forças de segurança e mantiveram o acampamento montado na véspera para pressionar pela aprovação do projeto.

;Estamos enfrentando um problema de fome e desnutrição, além de uma queda acentuada no rendimento (das famílias);, discursou Daniel Arroyo, coautor da proposta e integrante da oposição peronista. A Frente para a Vitória, principal corrente do Partido Justicialista, de centro-esquerda, lidera as pesquisas eleitorais com o candidato Alberto Fernández, que tem como companheira de chapa a ex-presidente Cristina Kirchner. Nas eleições primárias do fim de agosto, que funcionam como um termômetro para o pleito, os dois abriram 15 pontos de vantagem sobre a chapa encabeçada por Macri, acusado de aprofundar a crise social com sua política econômica de corte liberal.

Em defesa do governo, o deputado Mario Negri, da União Cívica Radical (UCR), adversária histórica do peronismo, sustentou a decisão do presidente de levar o debate sobre a emergência alimentar ao Congresso, em vez de prorrogar a lei por decreto. ;Se vivemos incertezas econômicas, não há necessidade de somar a elas inquietações políticas;, discursou o governista. A coalizão de centro-direita, insistiu Negri, ;não vai cair na tentação da demagogia quando formos falar de um tema dessa natureza;. De acordo com o congressista, o governo ;aumentou as rações dadas aos refeitórios populares, incorporou mais crianças aos programas e manteve os preços sob cuidados;.

;A saída é trabalhar, trabalhar e trabalhar;, reforçou o correligionário da UCR Toty Flores, preocupado em ;pensar como podemos sair; da situação atual. ;É necessário chamarmos (a sociedade) à reflexão. Deixarmos para tràs a Argentina do conflito e da confrontação: a sociedade está cansada disso;, argumentou.

A resposta da oposição veio por meio da deputada Victoria Donda, também da facção peronista de Fernández e Cristina. Nascida durante o regime militar de 1976-1983 na Escola de Mecânica da Armada (Esma), onde a mãe era presa política, ela foi a primeira filha de desaparecidos a chegar ao Congresso. ;Vimos aqui um deputado dizendo que temos de pensar sobre como resolver o problema da pobreza ; eles dizem isso depois de quatro anos no governo;, disparou, em clara referência a Toty Flores. ;O responsável é Macri. E, se é verdade que queremos a paz, não se trata da paz dos cemitérios.;

Diante da sede do Legislativo, os ativistas acampados pressionavam pela aprovação do projeto e criticavam a política do governo de centro-direita. ;Estamos esperando uma resposta do ministério;, cobrou a coordenadora nacional do movimento Bairros em Pé, Silvia Saravia. ;Precisamos que mantenham a assistência aos refeitórios populares, que não servem comida desde o mês passado;, protestou. ;Precisamos que seja reajustado o ;salário social; e que se descongelem os fundos para o programa (de assistência).;

FMI
Em meio à crise aguda, o ministro da Economia, Hernán Lacunza, confrmou que irá neste mês a Washington para reunir-se com diretores do Fundo Monetário Internacional (FMI). ;A situação continua muito difícil;, admitiu, em possível referência à inflação, que marcou 4% no mês passado e acumulou uma taxa anual de 54,5%. ;A complexidade das condições do mercado e a persistência da incerteza política tornam a solução ainda mais difícil;, concordou o porta-voz do FMI, Gerry Rice. ;Isso deverá estar no centro das discussões quando o ministro vier aqui.;


;A saída é trabalhar, trabalhar e trabalhar;
Toty Flores, deputado governista



Beijaço na frente da embaixada


Ativistas dos direitos das comunidades LGBT foram ontem diante da Embaixada do Brasil em Buenos Aires protestar contra a decisão do prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, de mandar recolher os exemplares de uma revista em quadrinhos cuja capa estampa um beijo entre dois super-heróis (masculinos) do selo Marvel. Os manifestantes promoveram um beijaço para contestar a iniciativa do prefeito, ligado a igrejas evangélicas. Nos cartazes, sobraram críticas também ao presidente Jair Bolsonaro, conhecido pelas posições hostis aos LGBTs.

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