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O Estado funciona

postado em 15/09/2019 04:05

Com formação em direito e em relações internacionais, Mohamed Hedi Soltani, 51 anos, ocupa o posto de embaixador da Tunísia no Brasil desde janeiro de 2017. Antes, trabalhou como diplomata na Índia e na China. Em entrevista ao Correio, ele destacou o fato de a transição política, depois da morte do presidente Beji Ca;d Essebsi, ter ocorrido de forma calma e pacífica, segundo os preceitos estabelecidos pela Constituição. O embaixador tunisiano afirmou que o seu país enfrentou uma crise econômica após a Primavera Árabe, mas retomou o crescimento, com a impulsão do turismo e o aumento das exportações. Para Soltani, o próximo governo da Tunísia terá o desafio de reduzir o índice de desemprego ; cerca de 15% dos tunisianos estão sem trabalho.

Como o senhor analisa as eleições presidenciais de hoje? O fato de o país ter respondido bem ao vácuo de poder após a morte do presidente Béji Ca;d Essebsi é algo extremamente positivo?
A princípio, as eleições estavam programadas para o mês de outubro, dentro do contexto do processo democrático iniciado em 2014. No entanto, desde o falecimento do presidente Beji Ca;d Essebsi, em 25 de julho deste ano, alguns meses antes do fim do seu mandato, as eleições foram adiantadas para 15 de setembro (hoje). Atualmente, temos 26 candidatos, que representam todas as correntes políticas da Tunísia. Logo depois do anúncio do falecimento do presidente, de acordo com a Constituição tunisiana, o presidente do Parlamento, Mohamed Ennaceur, assumiria interinamente a chefia do Estado por 90 dias. Por isso, quatro horas depois do anúncio da morte do presidente, a transição foi feita de maneira calma e pacífica, como a Constituição tunisiana previa. Isso prova que a democracia na Tunísia está indo bem, e que o Estado continua funcionando com respeito à Constituição. Portanto, sim, isso é algo muito positivo.

Desde a Primavera Árabe, quais foram os progressos pelos quais o seu país passou? A Tunísia conseguiu manejar as insatisfações da população?
Como todo país que passa por uma revolução, a Tunísia teve um período econômico difícil, haja vista as expectativas da população, especialmente dos jovens tunisianos, que têm muitas demandas em relação ao trabalho e ao emprego. Mas, a partir de 2017, com o retorno do movimento de turistas e com o aumento das exportações, o crescimento da economia está sendo retomado, ainda que a taxa de desemprego e a inflação continuem um pouco altas. As eleições presidenciais, assim como as eleições legislativas previstas para dia 6 de outubro, serão uma chance para que o novo dirigente possa satisfazer as expectativas dos tunisianos para os próximos cinco anos e as demandas da juventude tunisiana. A missão mais importante para o governo escolhido nas eleições legislativas será a redução da taxa de desemprego (em torno de 15%) e a garantia de um crescimento econômico sustentável.

Quais as principais demandas dos tunisianos?
As principais demandas da população tunisiana são a redução da taxa de desemprego e da inflação; a reforma do sistema de saúde e do sistema educacional do país; o combate à corrupção; e a melhora dos serviços públicos em geral, como transporte, saúde, segurança e infraestrutura.

Quem é o candidato favorito a vencer as eleições presidenciais na Tunísia? Quais as principais características dele e de suas propostas?
É difícil dizer se temos um candidato favorito até agora. São as urnas que vão dizer no domingo, 15 de setembro. Mesmo os especialistas não conseguiram prever qual candidato ganhará as eleições de hoje. Todos os analistas políticos na Tunísia concordam em dizer que haverá um segundo turno, cuja data ainda não foi definida. (RC)


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