Agência France-Presse
postado em 16/09/2019 14:12
O almoço de trabalho entre o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, e o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, nesta segunda-feira (16/9), não conseguiu descartar o temido cenário de um Brexit sem acordo, a 45 dias da "fatídica" data."O presidente Juncker recordou que cabe ao Reino Unido apresentar soluções juridicamente operacionais compatíveis com o acordo de retirada. Estas propostas ainda não aconteceram", afirma um comunicado divulgado pelo Executivo comunitário após o encontro em Luxemburgo.
Após o encontro com Juncker, o primeiro-ministro britânico se reuniu com seu colega luxemburguês, Xavier Bettel. Durante o encontro, dezenas de manifestantes protestaram nas ruas e chamaram Boris Johnson de "mentiroso".
Na sequência dos dois encontros, Boris Johnson voltou a afirmar que existe uma "boa possibilidade" de alcançar um acordo de divórcio com a UE. Ressaltou, porém, frisou que qualquer acerto "requer movimento" por parte da UE.
O premiê britânico cancelou sua participação em uma entrevista coletiva com Bettel por causa da manifestação contra o Brexit que acontecia muito perto do local da reunião.
Quase 52% dos eleitores britânicos votaram a favor do Brexit em um referendo realizado em junho de 2016. Três anos depois, porém, o Reino Unido segue sem encontrar a maneira de concretizar o primeiro divórcio na história do projeto europeu, após 45 anos de adesão ao bloco.
A última barreira no divórcio continua sendo a "salvaguarda irlandesa" (backstop), um mecanismo de último recurso que busca evitar uma fronteira para produtos entre Irlanda, país da União Europeia (UE), e a província britânica da Irlanda do Norte, após o Brexit.
A antecessora de Johnson no número 10 de Downing Street, Theresa May, estabeleceu com a UE que o mecanismo entraria em vigor ao final de um período de transição pós-Brexit, se Bruxelas e Londres não alcançarem uma alternativa melhor no âmbito de um eventual acordo de livre-comércio.
O Parlamento britânico rejeitou três vezes, porém, o acordo concluído em novembro, em parte pela salvaguarda, que impediria o Reino Unido de negociar acordos comerciais com países terceiros, por continuar dentro de uma união alfandegária com a UE.
Jonhson alertou que não aprovará um novo acordo, caso o mecanismo permaneça no texto. E, embora o Parlamento tenha solicitado, ele se recusa a pedir uma nova prorrogação do Brexit, determinado a retirar seu país da UE em 31 de outubro, mesmo sem um acordo.
"Uma saída desordenada e sem acordo do Reino Unido será nefasta para todas as partes", advertiu Markus J. Beyrer, da Business Europe. As principais instituições econômicas internacionais também alertam para os efeitos adversos de um Brexit "duro".
"Reuniões diárias"
O governo britânico afirmou que os dois líderes concordaram nesta segunda-feira na necessidade de "intensificar" os contatos para alcançar um acordo e antecipou "reuniões diárias" entre as equipes de negociação dos dois lados do Canal da Mancha.
A reunião foi precedida por uma ofensiva do governo britânico, que defendeu "enormes avanços" em suas discussões com Bruxelas para desbloquear o acordo do Brexit. Esta visão foi desmentida pela UE, que solicitou "propostas concretas".
As metas são proteger os acordos de paz da Sexta-Feira Santa de 1998 e manter a integridade do mercado único europeu, assim como a do mercado britânico, prejudicado por uma versão anterior da salvaguarda ao incluir apenas a Irlanda do Norte na união aduaneira.
Os opositores acreditam que Johnson esteja tentando ganhar tempo com as negociações com Bruxelas para conseguir um divórcio sem acordo. Sua estratégia para o Brexit enfrenta críticas dentro do próprio Partido Conservador e em Westminster, onde perdeu a maioria após uma série de deserções.
À espera de um eventual acordo, o relógio não para. O próximo momento crucial será a reunião de cúpula dos líderes da UE, em 17 e 18 de outubro, e que os deputados britânicos estabeleceram como data-limite para obter um acordo, ou solicitar uma prorrogação.
Além do Parlamento britânico, um eventual acordo deve ser aprovado pelos 27 sócios da UE e pela Eurocâmara. A Casa pretende alertar, na quarta-feira (18), que não há possibilidade de pacto sem o mecanismo para evitar uma fronteira entre Irlanda e a britânica Irlanda do Norte.
[SAIBAMAIS]Apresentado pelos líderes das principais bancadas do Parlamento Europeu, e ao qual a AFP teve acesso, o documento destaca que, "se o Reino Unido abandonar a UE sem um acordo, a responsabilidade seria completamente do governo britânico".