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Melhora a eficácia de vacina anti-HIV

Testada em sul-africanos, fórmula tem taxa de proteção de 51,9%. Em tailandeses, o índice tinha sido de 36,4%. Para especialistas, o resultado sinaliza que as imunizações promissoras terão que considerar o tipo de vírus circulante em cada região

postado em 19/09/2019 04:06

Um dos maiores desafios médicos da atualidade é encontrar uma vacina para o HIV. Essa tarefa, porém, envolve muitos obstáculos devido à complexidade dessa infecção e a características do vírus. Um grupo internacional de cientistas acaba de se aproximar desse objetivo. Eles testaram uma fórmula protetiva em um grupo de sul-africanos e obtiveram respostas imunes extremamente positivas ; 51,9% de eficácia de proteção. Detalhes da pesquisa foram apresentados na última edição da revista Science Translational Medicine.

A vacina, chamada de RV144, havia sido testada na Tailândia, mas os resultados foram menores: 36,4%. Segundo os cientistas, ainda não estava totalmente claro se a fórmula poderia trazer benefícios para pessoas que vivem em regiões como a África do Sul, onde existem diferentes tipos de HIV. ;O importante era que a vacina induzisse as respostas imunológicas de forma tão boa quanto, ou então melhor, do que nos participantes tailandeses. Também seria importante que o sexo, a idade e a obesidade não impactassem essas respostas imunes;, conta ao Correio Glenda Grey, presidente do Conselho de Pesquisa Médica da África do Sul e uma das autoras do estudo, que também contou com a participação de cientistas americanos.

No estudo atual, os pesquisadores compararam os dados imunológicos da pesquisa feita na Tailândia com os de 100 sul-africanos que também receberam a imunização experimental. Nenhum dos participantes, em ambos os casos, haviam sido infectados pelo HIV.

Surpreendentemente, a equipe descobriu que a RV144 estimulou respostas imunológicas mais fortes nos sul-africanos, sendo também bem tolerada. A vacina provocou respostas de células de defesa CD4 + e anticorpos anti-HIV. ;Os vacinados sul-africanos exibiram respostas imunes celulares e de anticorpos significativamente mais altas do que os tailandeses. Independentemente do sexo e da idade, as respostas das células-T CD4 foram impressionantes;, frisa a autora.

Os pesquisadores também ressaltam que as respostas de anticorpos ocorreram em tipos de HIV distintos: A, E e B ; na Tailândia, os testes foram feitos apenas no subtipo C do vírus. ;Isso reforça a ideia de que cada região do mundo precisa de um tipo separado de vacina contra o HIV com base em suas cepas circulantes;, declara, em comunicado, Larry Corey, pesquisador principal do estudo e integrante do Conselho de Pesquisa Médica da África do Sul.

Considerando a alta taxa de obesidade na África do Sul, os pesquisadores também observaram se as respostas à imunização mudariam em indivíduos com excesso de peso, mas não encontraram diferenças significativas. Com base nesses dados, a equipe acredita que será mais fácil desenvolver uma vacina com melhor desempenho. ;Esse é um estudo precursor. Ele vai no orientar no desenvolvimento de uma vacina totalmente eficaz;, ressalta Glenda Grey.

Genética
Werciley Júnior, infectologista e chefe da Comissão de Controle de Infecção do Hospital Santa Lúcia, em Brasília, acredita que o estudo internacional mostra dados extremamente animadores. ;Vemos, nesse trabalho, que esse modelo de prevenção da doença obteve um resultado bem expressivo, com basicamente 60% de eficácia de proteção. É o que temos hoje de mais moderno em relação a formas preventivas para o HIV;, frisa.

Para o especialista brasileiro, a diferença de resultados positivos entre os dois países se justifica por distinções genéticas e também pelos subtipos do HIV. ;Na África do Sul, por ser um local em que a incidência da doença é mais alta e sua circulação também, há um número maior de variantes. Aqui no Brasil, também temos essa distinção. Algumas regiões têm mais o C e, em outras, o B e o C são predominantes. Cada uma tem sua característica, o que torna esse processo de estimulação de anticorpos ainda mais complexo;, analisa.

Os autores adiantam que mais estudos estão em andamento também na África do Sul, na tentativa de entender melhor os efeitos da vacina RV144. A fórmula tem sido usada como base para estudos científicos há 10 anos. ;Desde 2009, o campo de pesquisa de vacinas contra o HIV tem se baseado em RV144 para desenvolver melhorias em sua amplitude e duração, a fim de proteger mais pessoas por períodos mais longos de tempo;, comenta Julie Ake, diretora adjunta principal do Programa Militar de Pesquisa em HIV (MHRP), dos Estados Unidos. Segundo Glenda Grey, existem três estudos de eficácia da vacina contra o HIV em andamento. ;Esperamos resultados até 2021, 2022 para ver se nossa abordagem funcionou, se nossa estratégia de vacina foi a correta;, diz.

Para o infectologista Werciley Júnior, as próximas pesquisas com a fórmula devem englobar uma análise mais heterogênea. ;Nesse estudo na África do Sul, foram analisadas pessoas com fatores genéticos parecidos, todos são negros. Seria interessante analisar em mestiços e em outras cidades, por exemplo, para saber a realidade de cada população e a sua capacidade de gerar anticorpos ao receber a vacina;, justifica.


;Esse é um estudo precursor. Ele vai no orientar no desenvolvimento de uma vacina totalmente eficaz;
Glenda Grey, presidente do Conselho de Pesquisa Médica da África do Sul e uma das autoras do estudo

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