postado em 20/09/2019 04:14
Morreu ontem exilado na Arábia Saudita o primeiro governante derrubado pelas revoltas populares da Primavera Árabe de 2011. Zine El Abidine Ben Ali, presidente da Tunísia desde 2011 até ser destituído, tinha 83 anos e era condenado em seu país a mais de uma sentença de prisão perpétua, por crimes como homicídio, abuso de poder e desvio de fundos públicos. A família não informou a causa da morte, e a chancelaria da Tunísia limitou-se a confirmar a notícia, sem mais detalhes. Ben Ali será sepultado hoje em Riad, onde vivia desde que deixou o país, segundo informou seu advogado à agência de notícias Reuters.
Desde sua destituição e da fuga, em janeiro de 2011, o ex-ditador foi objeto de repetidos boatos sobre sua morte. Em setembro último, o advogado Ben Salha admitiu que seu cliente se encontrava ;em estado crítico;, mas que tinha deixado o hospital e seguia sendo tratado ;em casa, com a familia;. Pai de seis filhos, três deles de um primeiro casamento, era frequentemente acompanhado pela segunda mulher, Leila, parceira no comando do país por 23 anos e detestada pelos opositores, que a acusavam de promover medidas econômicass que acentuaram as desigualdades e a pobreza.
O desemprego galopante e a carestia foram os combustíveis da rebelião popular deflagrada pelo dramático suicídio do vendedor ambulante Mohamed Bouazizi, que ateou fogo às próprias roupas na capital, Túnis, em 17 de dezembro de 2010. Um mês de manifestações de rua duramente reprimidas, com saldo de mais de 300 mortos, puseram fim a uma ditatura iniciada em 1987, quando Ben Ali afastou por meio de um golpe do Estado o patriarca da independência, Habib Bourguiba.
Militar de carreira formado na França e nos Estados Unidos, Zaba, como era apelidado pelos opositores, a partir das iniciais de seu nome, apoiou-se no aparato policial para sufocar qualquer contestação, sufocar a imprensa e confrontar os sindicatos. Tinha, no entanto, reconhecimento internacional pela firmeza com que neutralizou o extremismo islâmico.
A notícia da morte do ex-ditador foi recebida na Tunísia em meio à campanha para o segundo turno da eleição presidencial, entre dois candidatos considerados ;antissistema;. Embora a revolta contra Ben Ali tenha inspirado movimentos semelhantes em vários países árabes, a Tunísia foi o único onde a Primavera Árabe resultou na transição para um regime democrático ; ao contrário do que aconteceu no Egito, hoje governado pelo marechal que chefiava as Forças Armadas durante a ditadura, e da Líbia e da Síria, ambas mergulhadas desde então na guerra civil.