postado em 22/09/2019 04:05
Não foi preciso esperar mais do que algumas horas pela resposta do Irã ao anúncio dos Estados Unidos de que enviará tropas para a Arábia Saudita, que acusa o regime islâmico de ter promovido o ataque do último fim de semana contra instalações da Aramco, a petroleira estatal. Falando à imprensa em Teerã, sob a tensão provocada pela notícia do reforço militar americano e pela promessa saudita de que haverá retaliação pelo bombardeio de sábado passado, o comandante da Guarda Revolucionária, a unidade de elite iraniana, prometeu transformar em ;campo de batalha; o território de qualquer país que tentar ;agredir; a República Islâmica.
;Nunca permitiremos que uma guerra viole o território do Irã;, disse o general Hossein Salami, que assistiu ontem à inauguração de uma exposição militar na qual estão à mostra drones dos EUA e de outros países supostamente abatidos ou capturados. ;Quem quiser que seu território se transforme no principal campo de batalha, vá em frente;, desafiou, em entrevista coletiva no Museu da Defesa Sagrada e da Revolução Islâmica. ;Uma ;agressão limitada; não ficará limitada.; O comandante da Guarda Revolucionária proclamou a vitória do país sobre o ;domínio tecnológico dos EUA; e reforçou a advertência: ;O que seus drones fazem em nosso espaço aéreo? Vamos derrubá-los;.
O tom confiante e afirmativo do regime iraniano parece se sustentar na retórica algo ambígua adotada pelo governo de Donald Trump. Na vésepera, ao anunciar a decisão do presidente de enviar tropas à Arábia Saudita, o secretário de Estado Mike Pompeo fez questão de frisar que a missão será ;de natureza defensiva;. De imediato, Washington não mencionou números sobre o contingente a ser mobilizado. Na quarta-feira, em visita a Riad, Pompeo tinha classificado como ;um ato de guerra; o ataque às instalações da Aramco, pelo qual responsabilizou o Irã. No dia seguinte, porém, declarou que a prioridade da Casa Branca é por ;uma solução pacífica; para o impasse.
O próprio Trump alimentou a impressão de uma política indefinida em relação ao adversário de quatro décadas. ;Nunca houve um país mais prepararado (militarmente) do que os Estados Unidos. A coisa mais fácil que eu poderia fazer seria derrubar 15 coisas importantes no Irã;, afirmou. ;Mas acho que numa abordagem de uma pessoa forte, o que realmente denota força é mostrar um pouco de contenção.;
;Pressão máxima;
O ministro saudita das Relações Exteriores, Adel al-Jubeir, prometeu ontem que o reino adotará ;as medidas apropriadas;, uma vez que se confirme a autoria dos ataques contra as instalações de petróleo. ;Pedimos às Nações Unidas a abertura de uma investigação;, afirmou à imprensa na capital. O governo de Riad exibiu fragmentos de drones e mísseis como prova do envolvimento iraniano e rebateu a reivindicação de autoria feita pelos rebeldes xiitas do vizinho Iêmen, que enfrentam na guerra civil uma coalizão árabe. ;Estamos convencidos de que o ataque não foi iniciado a partir do Iêmen, e sim do norte;, acrescentou.
A monarquia saudita apoia a nova rodada de sanções imposta ao vizinho e rival pelos EUA, como parte de uma política que Trump batizou de ;pressão máxima;. Na sexta-feira, antes de ser anunciado o envio de tropas, o presidente colocou em vigor medidas duras contra o sistema bancário iraniano, atingindo sobretudo o Banco Central.