postado em 25/09/2019 04:11
O aviso foi claro e direto: ;Ninguém está acima da lei;. No pronunciamento em rede nacional de televisão, a presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, anunciou a abertura de uma investigação formal para o impeachment de Donald Trump e elencou os prováveis crimes cometidos pelo magnata republicano durante telefonema ao colega ucraniano, Volodymyr Zelensky. ;Nesta semana, o presidente admitiu que pediu ao presidente da Ucrânia para tomar ações que o beneficiariam politicamente;, afirmou Pelosi. ;As ações da Presidência de Trump revelaram fatos desonrosos de traição do presidente ao seu juramento de posse, traição à nossa segurança nacional e traição à integridade das nossas eleições. Portanto, hoje eu anuncio que a Câmara de Representantes está avançando com um processo oficial de impeachment;, acrescentou, ao citar a violação das responsabilidades constitucionais de um chefe de Estado.
Segundo um informante de inteligência anônimo, durante o telefonema para Zelensky, em 25 de julho passado, Trump teria pressionado o líder ucraniano, por oito vezes, para que investigasse denúncias de corrupção contra o ex-vice-presidente Joe Biden e o filho Hunter. Biden, do Partido Democrata, é o potencial adversário do presidente nas eleições de 2020. A reação de Trump foi intempestiva e imediata. ;Perseguição ao presidente!”, escreveu no Twitter, em letras maiúsculas. ;Eles nunca viram a transcrição do telefonema. Uma total caça às bruxas!”, emendou.
O republicano anunciou, também pelo Twitter, que ordenou ao secretário de Estado, Mike Pompeo, a divulgação da transcrição do diálogo com Zelensky. ;Eles também não sabem qual é o grande problema. Um total esquema de caça às bruxas pelos democratas!”. Trump qualificou a decisão de ;uma caça às bruxas lixo;. Enquanto participava da Assembleia-Geral das Nações Unidas, o mandatário tuitou que a transcrição da conversa, ;totalmente liberada e não editada;, mostrará um telefonema ;muito amistoso, totalmente apropriado e sem pressões;.
Em entrevista ao Correio, Allan Lichtman ; historiador e professor da American University (em Washington) ; afirmou que ;Pelosi fez o que é certo moral, constitucional e politicamente, ao endossar uma investigação formal para impeachment, mesmo com longo atraso;. Ele acredita que, por serem numerosas e flagrantes, as transgressões de Trump levarão à votação dos artigos de impeachment pelo plenário da Câmara.
Julgamento
Nesse cenário, Lichtman explicou que o líder da maioria republicana no Senado, Mitch McConell, poderia realizar um julgamento formal na Casa, comandado pelo presidente da Suprema Corte, John Roberts. ;O terceiro julgamento de um presidente dos EUA iria expor todas as evidências dos ;altos crimes e contravenções; do chefe de Estado. O peso das evidências contra Trump seria convincente, mesmo para o Senado de maioria republicana;, observou. De acordo com o especialista, ainda que os senadores absolvam o republicano, as revelações de um julgamento público no Senado poderiam rachar a base política de Trump e minar suas chances de reeleição.
Sob condição de anonimato, um ex-procurador federal norte-americano disse à reportagem que a abertura de uma investigação formal para impeachment provavelmente levará a audiências, seguidas de uma votação nos comitês de Inteligência, Judiciário ou de Supervisão. ;Se os artigos forem aprovados, eles levarão à votação no plenário da Câmara, a qual poderia conduzir ao impeachment de Trump. O próximo estágio seria um julgamento no Senado. O presidente somente seria removido se dois terços do Senado votassem pela destituição.; O ex-procurador federal prefere não fazer ilações e admite que tudo é possível, desde a remoção de Trump (segundo ele, altamente improvável) até um presidente com a reputação gravemente avariada, incapaz de conseguir a nomeação republicana para a reeleição. Outra possibilidade, na opinião dele, seria um racha dentro do Partido Republicano.
Para o também historiador James Green, da Brown University (em Rhode Island), Pelosi entendeu que a tentativa de Trump de cooptar Zelensky e a recusa da Casa Branca em entregar ao Congresso o relatório do informante eram evidências claras de desvios do presidente e suficientes para iniciar o processo para o impeachment. ;É um meio de pressionar Trump a entregar o relatório e a transcrição das conversas, o que deve ocorrer na quinta-feira. Parece que o informante também deseja depor perante o Congresso. Se as acusações forem ;sérias e críveis;, é provável que o Comitê Judiciário elabore os artigos de impeachment e a maioria os acate. O que ocorrerá no Senado é outra questão;, avaliou Green ao Correio. Ele concorda que, caso a investigação para impeachment revele crimes de Trump, ela irá corroer o apoio do presidente entre as mulheres brancas de classes média e alta, que representam voto decisivo na eleição.
Trechos
;Nos últimos meses, estivemos investigando em nossos comitês e litigando nos tribunais para que a Câmara pudesse reunir todos os fatos relevantes e considerar se deve exercer todo o poder do Artigo 1, incluindo um poder constitucional da maior gravidade, a aprovação de artigos de impeachment.;
;Nossa república persiste por causa da sabedoria de nossa Constituição, consagrada em três ramos coiguais, que atuam como freios e contrapesos. (;) O presidente deve ser responsabilizado. Ninguém está acima da lei!”
;As ações da Presidência de Trump revelaram fatos desonrosos de traição do presidente ao seu juramento de posse, traição à nossa segurança nacional e traição à integridade das nossas eleições.;
;Foi uma violação das responsabilidades constitucionais. Portanto, hoje eu anuncio que a Câmara de Representantes está avançando com um processo oficial de impeachment.;
Eu acho...
;Tudo dependerá do que estiver na transcrição da conversa entre Trump e Zelensky. Se Trump liberar a íntegra da conversa, não editada, isso deve responder a várias dúvidas sobre como o Congresso reagirá. É significativo que Nancy Pelosi tenha acompanhado a posição dos colegas a favor da investigação para impeachment. Ante a hesitação que exibia, isso sinaliza que Pelosi deve crer que exista algo especialmente grave sobre o último escândalo do governo.;
Mark Rozell, reitor da Faculdade de Política e de Governo da Universidade George Mason, em Fairfax (Virgínia)]]
;A decisão de Pelosi de iniciar o processo para eventual impeachment de Trump é de grande importância. Apenas por três vezes na história americana ; contra Andrew Johnson (1868), Richard Nixon (1974) e Bill Clinton (1998) ;, a Câmara dos Representantes lançara uma investigação de impeachment completa e formal de um presidente. É importante que Pelosi tenha feito esse anúncio em pronunciamento formal ao povo, pois ela tinha sido contrária ao movimento rumo a um impeachment.;
Allan Lichtman, historiador da American University (em Washington)
Na ONU, ataques ao globalismo, ao Irã e à Venezuela
Na manhã de ontem, Trump usou a tribuna da Assembleia-Geral da ONU para advertir o Irã e a Venezuela, condenar a ordem global, supervalorizar o nacionalismo e reafirmar que ;os EUA são a nação mais poderosa do mundo;. ;O futuro não pertence aos globalistas. O futuro pertence aos patriotas;, declarou. O republicano ameaçou endurecer ainda mais as sanções contra o Irã, caso não abandone o seu ;comportamento agressivo; no Oriente Médio e suas posições ;fanáticas; sobre o tema nuclear. Em relação à Venezuela, Trump disse que acompanha a situação de ;muito de perto; e que espera ;o dia em que a democracia será totalmente restaurada no país, quando a Venezuela será livre;. Em entrevista ao Correio, Thomas G. Weiss, diretor emérito do Instituto Ralph Bunche para Estudos Internacionais da City University of New York (CUNY), afirmou que Trump não se afastou do roteiro usual. ;Eu citarei Samuel Johnson, autor do Dicionário da língua inglesa, que disse que ;o patriotismo é o último refúgio dos canalhas;. Trump é e foi um canalha. Seu discurso mantém as linhas dos anteriores. A palavra ;soberania; foi usada 21 vezes em 2017, e sua redundância continua;, criticou.