postado em 26/09/2019 04:16
Ter a qualidade do sono comprometida ao longo da vida pode aumentar as chances de ocorrência de Alzheimer. A relação foi constatada por cientistas da Universidade da Califórnia em Berkeley, nos Estados Unidos. Segundo eles, a hipótese é de que dificuldades para dormir estejam ligadas à ocorrência de emaranhados de proteínas no cérebro entre 40 e 60 anos de idade, condição apontada como desencadeadora da demência.
Para os autores do estudo, divulgado no Journal of Neuroscience, as constatações reforçam a importância da qualidade do sono em todas as idades para manter o cérebro saudável na velhice. ;O sono insuficiente ao longo da vida é uma previsão significativa do desenvolvimento da patologia da doença de Alzheimer no cérebro;, justifica Matthew Walker, principal autor do estudo, pesquisador do sono e professor de psicologia da universidade americana.
Para chegar à conclusão, Matthew Walker e a equipe recrutaram 95 voluntários O grupo era formado por adultos e idosos saudáveis, alguns até com 100 anos de idade. O cérebro dos participantes foi escaneado para que emaranhados de proteínas beta-amiloide e tau, ligadas ao Alzheimer, pudessem ser detectados.
Analisando o material, a equipe percebeu que adultos com 40 e 50 anos que relatavam ter declínio na qualidade do sono apresentavam mais proteína beta-amiloide no cérebro. Já aqueles com 50 e 60 anos que relataram declínio no sono tinam mais emaranhados de proteína tau.
Para a equipe, os resultados abrem oportunidades de surgimento de novas formas de intervenção. ;A ideia de que existem janelas do sono distintas ao longo da vida é realmente emocionante. Isso significa que podem haver períodos de alta oportunidade em que podemos intervir com um tratamento para melhorar o sono das pessoas;, ilustra Joseph Winer, um dos autores do estudo e estudante de pós-graduação da Universidade da Califórnia.
Ondas cerebrais
Ao comparar a acumulação de proteínas e a qualidade do sono, a equipe detectou que pessoas com altos níveis de tau no cérebro apresentavam maior probabilidade de não ter uma boa noite de descanso. Segundo os cientistas, quanto mais os idosos tinham a proteína tau, menos sincronizadas eram as ondas cerebrais deles, o que se associa à má qualidade do sono. Sabe-se que a boa sincronização das oscilações do cérebro ajuda a consolidar a memória.
Apesar dos resultados promissores, a equipe reforça que outros estudos são necessários para confirmar a relação entre os emaranhados de proteínas no cérebro e a doença de Alzheimer. Ainda assim, eles acreditam que é possível repensar as práticas médicas a partir do que foi constatado. A equipe recomenda que os médicos monitorem as mudanças nos padrões do sono de pacientes mais velhos e intervenham quando necessário, a fim de ajudar a retardar os sintomas da demência.