postado em 28/09/2019 04:11
Sob a promessa de celeridade no processo para o impeachment de Donald Trump, os democratas da Câmara dos Representantes anunciaram ontem a primeira intimação sobre o escândalo envolvendo um telefonema no qual o republicano teria pressionado o colega ucraniano Volodymyr Zelensky a investigar o ex-vice-presidente Joe Biden e o filho Hunter. O secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, será sabatinado pelo Comitê de Assuntos Externos da Câmara e terá de apresentar documentos ligados aos negócios do governo Trump com a Ucrânia. Os integrantes da comissão acusam o chefe da diplomacia de Washington de se recusar a fornecer os dados ao Congresso. O aviso de intimação acusa Pompeo de impedir a completa apuração do caso e de prejudicar ;a capacidade do Congresso de cumprir com suas responsabilidades constitucionais de proteger a nossa segurança nacional e a integridade de nossa democracia;.
De acordo com os democratas (oposição), a evidência de abuso de poder (o telefonema para a Ucrânia) e as tentativas de acobertar as irregularidades, por parte da Casa Branca, são ;conclusivas;. ;Ao se tratar de um tema de segurança tão convincente, (Trump) simplesmente não nos deu outra opção;, declarou Nancy Pelosy, presidente da Câmara dos Representates, em entrevista à rede de TV MSNBC. ;Isso é sobre a segurança nacional do nosso país: o presidente dos Estados Unidos é desleal ao juramento de seu cargo, colocando a segurança nacional em risco, e pondo a integridade das nossas eleições em risco;, completou Pelosi, ao utilizar os termos citados no aviso de intimação a Pompeo, redigido pelos deputados Eliot Engel, chefe do Comitê de Assuntos Externos; Adam Schiff, líder do painel de Inteligência do Congresso, e Elijah Cummings, presidente do Comitê sobre Supervisão e Reforma. Pelosi designou Schiff para comandar a investigação.
Trump divulgou um vídeo no qual classificou de ;guerra; sua luta contra os democratas. ;Estamos em guerra. Estas pessoas estão doentes;, disse o presidente, na gravação obtida pela agência Bloomberg. Nas imagens, ele afirma que o informante de inteligência responsável por vazar detalhes do telefonema ;está perto de ser um espião;. De acordo com o magnata, com ;os espiões e a traição; se costumava atuar ;um pouco diferente do que como fazemos agora;.
Ataque
Em seu perfil no Twitter, o republicano também publicou vídeo de campanha em que atacou Biden, seguido da frase ;Eu estou drenando o pântano!”, com todas as letras em maiúsculo. ;Joe Biden prometeu à Ucrânia US$ 1 bilhão pela demissão do procurador-geral que investigava o seu filho;, diz o narrador, quando entra uma fala supostamente do próprio Biden: ;Se o procurador não for afastado, vocês não receberão o dinheiro; bem, filho da p..., ele foi afastado;. Segundo o vídeo, os democratas decidiram abrir o processo para impeachment assim que Trump pediu a Zelensky que investigasse denúncias de corrupção. ;Eles (democratas) perderam as eleições; agora, querem roubar esta;, finaliza a narração.
O jornal The Washington Post revelou que os esforços da Casa Branca para blindar o telefonema de Trump a Zelensky fizeram parte de uma campanha secreta ampla para bloquear detalhes de ligações do presidente. Ontem, Trump também usou o Twitter para centrar fogo contra Schiff. ;O deputado Adam Schiff inventou totalmente minha conversa com o presidente da Ucrânia e a leu para o Congresso e para milhões (de americanos). Ele deve renunciar e ser investigado. Ele tem feito isso por dois anos. É um homem doente;, escreveu.
Diretor do Centro para Política da Universidade da Virgínia, Larry J. Sabato afirmou ao Correio que existem ;dados suficientes para saber que Trump fez algo totalmente inapropriado para um presidente;. Bruce Ackerman, professor de direito da Universidade de Yale, concorda que a denúncia de que houve amplo esforço para esconder o conteúdo do telefonema sugere uma ;má ação presidencial;. ;O relatório do informante de inteligência revelou que o procurador-geral Bill Barr participou do escândalo ucraniano. Barr não se recusou a tomar a decisão de reter o relatório do Congresso. Tal abuso de poder tão evidente é sem precedentes e sugere um envolvimento presidencial secreto no acobertamento do procurador-geral;, disse à reportagem. Ontem, o Departamento Nacional Anticorrupção da Ucrânia informou que investiga a companhia de gás Burisma entre 2010 e 2012, antes da participação de Hunter como conselheiro da empresa.
47%
Total dos norte-americanos que apoiam a investigação para impeachment de Donald Trump, segundo pesquisa realizada
pelo site The Hill ; um aumento de 12 pontos percentuais em três meses
Ao se tratar de um tema de segurança tão convincente, (Trump) simplesmente
não nos deu outra opção;
Nancy Pelosi, democrata, presidente da Câmara dos Representantes
Pontos de vista
Por Larry J. Sabato
Afastamento improvável
;Parece haver boa chance de que a Câmara, controlada pelos democratas, decida pelo impeachment de Trump. O Senado, controlado pelos republicanos, votará depois. Serão necessários 67 votos para afastar Trump. Há 53 republicanos e 47 democratas. Mesmo que todos os democratas se unam, 20 republicanos teriam de desertar e votar para derrubar Trump..;
Diretor do Centro para Política da Universidade da Virgínia
Por Bruce Ackerman
Manobra republicana
;É irreal esperar rápida votação no Senado. Líder da maioria, Mitch McConnell aguardará até três meses antes da eleição, e organizará forte voto republicano. Assim, garantirá que as forças pró-Trump fiquem aquém dos dois terços necessários para a condenação. Trump usará a absolvição para colocar os eleitores ao seu lado.;
Professor de direito da Universidade de Yale