postado em 28/09/2019 04:12
Depois de uma campanha marcada por grande incerteza política e medo, o Afeganistão realiza hoje eleições presidenciais de alto risco, sob a ameaça de atentados e fraudes. Os insurgentes talibãs, radicalmente opostos à votação, instaram os eleitores a não saírem de suas casas, levando as autoridades a temerem uma alta abstenção, como verificado em 2014 e 2019. Pesa ainda para essa estimativa o fato de que os 9,6 milhões de afegãos aptos para votar estão desesperançosos com os rumos da política e as chances reais de terem melhores condições de vida.
;As ameaças à segurança e falta de confiança na transparência eleitoral podem resultar em fraca participação, o que diminuirá a legitimidade da eleição e do governo eleito;, opina o analista Ahmad Saeedi. Destacam-se dois candidatos, dos 18 em disputa: Ashraf Ghani, atual presidente em busca da reeleição, e seu chefe de governo, Abdullah Abdullah. Trata-se do mesmo cenário de cinco anos atrás.
Em 2014, permeada por acusações de fraude, as eleições resultaram em grave crise, que obrigou os Estados Unidos, sob a presidência do democrata Barack Obama, a impor um compromisso político a Ghani e a Abdullah. Nada indica, porém, que o republicano Donald Trump esteja disposto a agir como mediador. Os talibãs sempre se recusaram a negociar com o governo de Cabul, por considerá-lo um ;fantoche; dos americanos.
A votação ocorre dias depois de Trump ter encerrado, no início do mês, o diálogo entre Washington e o Talibã sobre a retirada das tropas americanas do território afegão. Um acordo parecia iminente, e vários observadores previam a suspensão das eleições para permitir a implementação do plano de retirada. Mas isso não aconteceu.
Insegurança
Inicialmente marcada para abril, a votação foi adiada duas vezes, em meio a difíceis negociações com os extremistas. Foi difícil realizar comícios eleitorais, devido às medidas de segurança necessárias. Os talibãs controlam vastas áreas do território afegão, exceto as grandes cidades.
A campanha começou em julho, com um ataque aos escritórios de um aliado do atual presidente, que deixou 20 mortos e 50 feridos, no centro de Cabul. Quando o próprio Ghani se arriscou num comício em Charikar, a uma hora de carro da capital, o Talibã realizou um novo ataque que resultou na morte de 26 pessoas. Para hoje, segundo o ministério afegão do Interior, foram mobilizados cerca de 72 mil homens para dar segurança aos cerca de 5 mil pontos de votação.
Além da violência, cresce a preocupação com fraudes. Na última quinta-feira, a embaixada dos EUA em Cabul se declarou ;chocada com (a abundância) de reclamações sobre segurança e a ausência de competição justa;.
Quem sair vitorioso das urnas vai liderar um país em guerra, no qual 55% da população vive com menos de US$ 2 por dia, e onde o conflito com os insurgentes talibãs matou mais de 1,3 mil civis no primeiro semestre deste ano, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU).
55%
Parcela da população afegão que vive com menos de US$ 2 por dia
72 mil
Total do efetivo que atuará nos 5 mil pontos de votação