postado em 05/10/2019 04:14
Um dia depois de ter colocado o país em estado de exceção para enfrentar uma greve nacional e uma onda de protestos contra o aumento de 123% decretado para o preço dos combustíveis, o presidente do Equador, Lenín Moreno, reforçou ontem o contra-ataque aos sindicatos e às organizações estudantis que convocam a população às ruas para forçar o recuo do governo. ;O Equador está dizendo ;não; a esses golpistas;, afirmou o presidente, que fez questão de deslocar-se da capital, Quito, para Guayaquil, principal cidade costeira e um dos polos econômicos vitais do país. Pelo segundo dia consecutivo, os principais centros urbanos permaneciam paralisados pela falta de transportes.
;Os que violarem a lei, definitivamente, serão detidos;, reafirmou Moreno, determinado a responder a uma onda de saques que irrompeu na quinta-feira, em resposta ao anúncio da suspensão dos subsídios estatais à gasolina e ao óleo diesel. Minha presença aqui tem o propósito de evitar que aqueles que saquearam o país sigam fazendo o mesmo em outras instâncias;, afirmou o presidente. Ele se referia ao governo anterior, do ex-aliado esquerdista Rafael Correa, mas também aos sindicatos ligados ao transporte público, que dividem com organizações estudantis a liderança dos protestos.
;Vínhamos dialogando havia muitíssimo tempo, mas, infelizmente, nos defrontamos com a falta de seriedade que nos leva a presumir que a intenção deles sempre foi desestabilizar o governo;, acusou. Desde a decretação do estado de exceção, porém, Moreno sustenta que a situação tendeu a ser ;visivelmente controlada; pelas forças de segurança. Ainda assim, o balanço oficial indicava no início da tarde a persistência de 281 pontos de concentração de manifestantes em todo o país. Os transportes coletivos permaneciam paralisados em 20 províncias, com 215 estradas totalmente interditadas por manifestantes e um total parcial de 14 feridos ao longo do dia. Na véspera, as forças de segurança registraram 19 detenções.
Quito, com cerca de 2,7 milhões de habitantes, permanecia sem ônibus e táxis. Moradores caminhavam desde cedo para as estações do sistema municipal de transporte, cuja oferta se mostrou insuficiente para atender à demanda de deslocamentos entre as partes norte e sul da cidade. ;À medida que as horas avançam, teremos uma situação muito mais controlada e segura para que as atividades normais sejam retomadas;, prometeu o ministro dos Transportes, Gabriel Martínez. Guayaquil e Cuenca também se ressentiram da suspensão dos serviços.
A julgar pelas declarações do porta-voz do sindicato dos transportadores Abel Gómez, não estava contemplada a possibilidade de retorno ao trabalho enquanto o governo de Moreno não recuar da decisão de retirar os subsídios ; parte do acordo firmado em março com o Fundo Monetário Internacional (FMI) para o resgate das contas públicas. ;A posição firme é de que o decreto (sobre os combustíveis) tem de ser revogado;, afirmou o sindicalista. ;Caso contrário, a paralisação continua.; No mesmo tom, o líder dos taxistas da capital, Carlos Brunis, descartou a ideia de um recuo diante da repressão determinada pelo governo: ;Ratificamos que o protesto prossegue indefinidamente;.