postado em 06/10/2019 04:15
Como é, no Brasil, o tratamento padrão de pacientes com câncer de pulmão metastático, com a mutação do EGFR?
No Brasil, o câncer de pulmão de não pequenas células metastático com mutação do EGFR é uma mutação bastante comum: cerca de 20% a 25% dos pacientes com câncer de pulmão têm essa mutação. Atualmente, a gente tem disponível a aprovação do osimertinibe como terapia de primeira linha. Temos algumas outras moléculas que foram aprovadas antes dele, que chamamos de inibidores de primeira geração, que são o gefitinibe e o erlotinibe. Depois, veio o afatinibe, e o novo remédio de terceira geração mais potente, que é o osimertinibe. A primeira aprovação dele foi para segunda linha. Utilizavam-se os inibidores de primeira geração e, quando a doença progredia, se fazia uma rebiópsia, quando se tira um pedacinho do tumor e analisa novamente para ver se tem uma mutação de resistência, a T790M. Só então, era usado o osimertinibe. Com esse ganho na segunda linha, ele foi estudado também na primeira linha. Em vez de esperar uma progressão, foi comparado com outras terapias-alvo para o EGFR.
O senhor considera significativo o ganho em sobrevida observado no estudo Flaura?
O ganho em sobrevida sempre é significativo, porque a maioria dos estudos não mostrou ganho em sobrevida. Os estudos anteriores com as outras moléculas avaliavam a sobrevida livre de progressão ; quanto tempo o tumor ficava controlado. A sobrevida global, na maioria dos estudos, não foi alcançada. Então, esse ganho em sobrevida é bastante significativo. Você tem uma redução no risco de morte na ordem de quase 30% e, além disso, a gente nunca pode esquecer que, comparado com os outros medicamentos, ele tem menor toxicidade, uma ação mais rápida e um controle de metástase no cérebro superior às outras moléculas. Tudo isso acaba se resumindo no que a gente mais quer, que é qualidade de vida. Então, você dar qualidade de vida com ganho em sobrevida é algo que nunca se viu.
O senhor acredita que esses resultados são suficientes para que o osimertinibe seja incorporado ao Sistema Único de Saúde?
Existem duas coisas importantes no Brasil: o osimertinibe está aprovado como tratamento de primeira linha pela agência regulatória, mas a questão é ter aprovação para ser incluído no rol da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) e, assim, ser incluído no Sistema Único de Saúde (SUS). É uma aprovação mais do uso do que de aprovação de regulamentação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Os primeiros resultados do osimertinibe já eram suficientes, o ganho na sobrevida livre de progressão já deveria ter sido suficiente para convencer. Agora, só não se convence quem não quer.