postado em 11/10/2019 04:15
A intrevenção da Fifa permitiu que milhares de iranianas pudessem ontem assistir a uma partida de futebol no Estádio Azadi, em Teerã, em meio aos 100 mil torcedores que vibraram com a estreia da seleção nacional nas eliminatórias para a Copa do Mundo de 2022, a ser disputada no Catar. Como que para presentear as fãs entusiasmadas, o time iraniano marcou uma goleada histórica sobre o Camboja: 14 a 0.
Nos últimos 40 anos, a República Islâmica proibiu as torcedoras de frequentar jogos de futebol e outras competições esportivas masculinas. A liderança religiosa do país proíbe estritamente que homens e mulheres ocupem os mesmos espaços em qualquer tipo de evento público, incluindo orações, apresentações artísticas e atos políticos. No caso dos esportes, as autoridades acrescentam a determinação de impedir que elas sejam expostas à visão de ;corpos masculinos seminus;.
Em setembro, porém, a Fifa decidiu exigir do Irã que permitisse o acesso das mulheres aos estádios de futebol nas eliminatórias da Copa, sob pena de o país ser excluído da competição. A decisão foi tomada em resposta à morte da torcedora Sahar Khodayari, que cometeu suicídio ateando fogo às vestes, diante de um tribunal, depois de ter sido julgada por tentar assistir a uma partida em Teerã. Conhecida como ;a garota de azul;, a cor do time pelo qual torcia, o Esteghlal FC, Khodayari tinha sido presa no ano passado, depois de ser flagrada tentando entrar no estádio vestida de homem. A morte causou grande comoção e muitas vozes pediram a suspensão do Irã na Fifa.
Mais de 4 mil mulheres conseguiram ingresso para a partida de ontem contra o Camboja, e coloriram o estádio de verde, vermelho e branco ; as cores nacionais ; estampados nas bandeiras cobrindo os ombros ou em pintura de rosto. Algumas se permitiram até deixar os cabelos à mostra, desafiando o estrito código de vestimenta imposto a elas pelo regime islâmico. A cada gol, sorrisos abertos e gritos de alegria tomaram conta da seção do Estádio Azadi reservado para elas.
Mulheres foram admitidas em jogos de futebol anteriormente no país, mas apenas por meio de convites distribuídos pelas autoridades. Para o jogo de ontem, pela primeira vez, elas puderam comprar ingressos livremente, mas nem todas conseguiram. ;Tenho 18 anos e durante 14 anos sonhei em poder ir a um estádio;, disse uma estudante identificada apenas pelo primeiro nome, Guelareh. ;Mas, infelizmente, não consegui comprar a entrada.;
O jornal pró-reformista Sazandegui comemorou a decisão publicando uma foto com duas torcedoras juntas e o título: ;As mulheres da liberdade; ; referência ao nome do estádio, que significa ;liberdade; no idioma farsi. Para alguns homens, o encontro nas arquibancadas mereceu ser comemorado. ;É um grande sentimento estarmos aqui juntos, finalmente. Só desejamos que isso continue no futuro;, disse um espectador à agência de notícias France-Presse.
Uma delegação da Fifa assistiu ao jogo para garantir que o Irã cumpriria a promessa de permitir a entrada de mulheres.