postado em 11/10/2019 04:15
A decisão veio com gestos e, depois, com palavras. Um grupo de jornalistas e de oito integrantes da Polícia Nacional do Equador ; sete homens e uma mulher ; foi retido por indígenas no interior da Casa de Cultura, em Quito. O local acabou transformado em uma espécie de quartel-general da Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie), a principal organização envolvida nos protestos contra o fim dos subsídios aos preços dos combustíveis e contra acordos firmados entre o presidente, Lenín Moreno, e o Fundo Monetário Internacional (FMI). ;Nada de diálogo com um governo assassino até que se cumpram os mínimos requisitos: a saída de María Paulo Romo e de Oswaldo Jarrín do governo e a revogação do decreto 883;, afirmou Jaime Vargas, presidente da Conaie, ao se referir, respectivamente aos titulares das pastas do Governo e da Defesa e ao decreto sobre os subsídios.
;O diálogo proposto por Lenín Moreno é uma fantochada. Por isso, companheiros e companheiras, é hora de radicalizar as ações;, conclamou Vargas, por meio de um comunicado à imprensa. Pouco depois, em discurso aos indígenas, ele defendeu o bloqueio de vias e a ocupação de prédios públicos. ;Vamos radicalizar com mais força, companheiros, e se tiverem que me denunciar, se tiverem que me matar, que me matem!”, exclamou o dirigente máximo da Conaie. Oito dias de protestos no Equador forçaram Moreno a transferir a sede do Executivo para a cidade de Guayaquil, a 270km de Quito, e deixaram pelo menos cinco mortos nos confrontos entre manifestantes e forças de segurança. Entre as vítimas está Inocencio Tucumbi, um dos líderes da Conaie na província de Cotopaxi.
;A radicalização do movimento implicou uma retenção de policiais e de jornalistas na Casa de Cultura. Isso ocorreu ante a incapacidade de o governo de compreender a lógica do movimento. Se não for resolvida em breve, essa radicalização poderá aumentar os riscos de incremento no número de vítimas, levando o conflito a ganhar em magnitude;, advertiu ao Correio Pedro Donoso Mueller, cientista político, advogado e diretor-geral do Icare, um gabinete estratégico especializado em gestão de crise e de reputação, em Quito. Para Donoso, a única alternativa para os indígenas é ser capaz de fazer com que o governo recue em algo no menor tempo possível. ;Pode ser por meio da renúncia de algum ministro ou de medidas para suavizar o impacto sobre o fim dos subsídios.;
Santiago Basabe, decano do Departamento de Estudos Políticos da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso) do Equador, afirmou à reportagem que setores da Conaie estão dialogando com as autoridades. ;O governo trata de dividi-los e creio que conseguirá. A Conaie apresenta muitas divisões há algum tempo;, comentou. Na quarta-feira, ministros equatorianos propuseram um pacote de seis pontos para tentar aplacar os ânimos dos indígenas, mas o plano foi recebido com ceticismo por especialistas.
Detenção
Por meio do Twitter, María Paula Romo, ministra do Governo, divulgou fotos de um suposto grupo de venezuelanos presos no aeroporto de Quito, ontem pela manhã. ;Dezessete detidos. (;) A maioria deles venezuelanos. Em seu poder, informação sobre a mobilização do presidente e do vice-presidente;, escreveu. O jornal El Universo publicou que, com os suspeitos, foram encontrados celulares, punhais, drogas e uma câmera fotográfica com imagens das caravanas presidenciais e vice-presidenciais, além de uma imagem do avião usado normalmente por Lenín Moreno.
;Nos próximos minutos, serão colocados à disposição da Justiça. Cada novo evento confirma todos os interesses que estão por trás do caos no país. Nós o enfrentamos com a força da lei, a defesa da democracia e sem subestimar o que está em jogo;, acrescentou Romo, em alusão às denúncias do presidente de um suposto complô para derrubá-lo e no qual estariam envolvidos seu antecessor e ex-aliado Rafael Correa e o presidente venezuelano, Nicolás Maduro.
"Vamos radicalizar com mais força, companheiros, e se tiverem que me denunciar, se tiverem que me matar, que me matem!”
Jaime Vargas, presidente da Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie)