postado em 12/10/2019 04:16
Primeiro teste na cena global
O novo governo brasileiro aguarda com alguma ansiedade e uma ponta de apreensão a votação desta terça-feira, na Assembleia-Geral das Nações Unidas, para a escolha dos dois representantes da América Latina no Conselho de Direitos Humanos (CDH) da organização. O Brasil tentará mais um mandato de dois anos, tendo como concorrentes a Venezuela e a Costa Rica. Tanto mais que a candidatura centro-americana foi concatenada com o propósito de dificultar a vida do regime chavista e barrar sua chegada ao organismo ; em meio aos esforços de vários países da região para aprofundar o isolamento diplomático de Nicolás Maduro.
Da perspectiva do Planalto e do Itamaraty, porém, o resultado obtido em Nova York equivalerá a uma primeira avaliação objetiva e de maior amplitude a respeito da imagem internacional do governo Jair Bolsonaro. São ainda recentes os impactos deixados pelo discurso do presidente, na abertura dos debates da Assembleia-Geral, e pela controvérsia sobre as queimadas na Amazônia, que colocaram o Brasil na berlinda durante a reunião anual do G-7. Na ocasião, azedou ainda mais a já difícil relação de Bolsonaro com o colega da França, Emmanuel Macron, e com a chanceler da Alemanha, Angela Merkel.
Nos nove meses decorridos desde a posse do capitão, a diplomacia brasileira foi questionada, em especial, pela guinada na orientação seguida no CDH ao longo das últimas décadas. De uma posição vista como ousada e pioneira em temas como direitos reprodutivos, condição feminina e atenção às comunidades LGBTs, o país passou ao alinhamento com governos de orientação religiosa conservadora nesse terreno ; ao ponto de rejeitar explicitamente a expressão ;questão de gênero; no texto de documentos oficiais.
Mais do que o risco de perder a vaga, avaliado como praticamente nulo, é a geografia do voto que concentra as atenções do chanceler Ernesto Araújo. Descontada a possibilidade de ficar atrás de Venezuela e Costa Rica, basta reunir o apoio de 97 países, entre os 194 que integram a ONU. A questão será comparar o resultado com os de 2012 (184 votos) e 2016 (137), contabilizar perdas e ganhos e traçar o perfil dos governos que se aproximaram e dos que se aproximaram.
Com quem andas...
Foi por um prisma semelhante que meios diplomáticos analisaram o pronunciamento brasileiro sobre a convulsão estabelecida no Equador desde o pacote de austeridade que elevou em 123%, de uma tacada, o preço dos combustíveis. O governo Bolsonaro assinou nota de solidariedade ao presidente Lenín Moreno, em parceria com seis governos cujo perfil se situa do centro para a direita: Colômbia, Peru, Argentina, Paraguai, El Salvador e Guatemala. O texto acusa nominalmente a Venezuela de Nicolás Maduro de tentar ;desestabilizar as nossas democracias;.
Entre as ausências, no grupo dos países que firmam o documento, estão a do Uruguai e do México, que procuram manter uma ponte entre Maduro, a oposição interna e os vizinhos. Mesmo o Chile, do direitista Sebastián Piñera, absteve-se de somar a voz.
Desfalque à vista
A composição do bloco pró-Moreno corresponde a metade dos integrantes do Grupo de Lima, articulação diplomática interamericana que coordena a pressão externa sobre o chavismo. O time, porém, pode sofrer desfalque de certo peso em futuro próximo. Caso confirme o amplo favoritismo na eleição presidencial do próximo dia 27, o candidato da oposição peronista, Alberto Fernández, inclina-se a retirar a Argentina do grupo de Lima e somar com a dupla Uruguai-México, que tenta costurar com União Europeia, Rússia e China uma ;terceira via; para tratar do impasse na Venezuela.