postado em 12/10/2019 04:16
Com estradas bloqueadas em 17 das 24 províncias e a chegada de mais mil indígenas da região amazônica à capital, Quito, o Equador entra pela segunda semana de protestos com o presidente Lenín Moreno impotente diante de uma convulsão social que ontem acumulava um saldo de ao menos cinco mortos, centenas de feridos e cerca de 2 mil detidos. Da cidade costeira de Guayaquil, para onde transferiu o governo no início da semana, Moreno reiterou o chamado ao diálogo com os líderes do movimento, mas a resposta foram mais confrontos e violência na capital ; como prometido na véspera pela Confederação de Nacionalidades Indígenas (Conaie), que convocou os manifestantes a radicalizar a ofensiva pela revogação do aumento de 123% nos combustíveis, imposto há 10 dias.
;Faço um chamado aos dirigentes para que dialoguem diretamente comigo;, apelou o presidente, horas depois de o governo ter divulgado um comunicado no qual denunciava ;ataques violentos contra a força pública; na capital. Fotógrafos e cinegrafistas registraram, durante o dia, cenas de feridos carregados em macas nas ruas próximas à Assembleia Nacional. Ao fundo, o ruído da explosão de bombas de gás lacrimogêneo, sirenes e gritos de ;assassinos;. ;É indispensável conter a violência;, insistiu Moreno.
Os distúrbios eclodiram nos arredores da sede do Legislativo, que chegou a ser brevemente ocupado pelos indígenas na última terça-feira, antes de o governo decretar o toque de recolher noturno nas imediações de edifícios públicos. Desde o início dos protestos, o país está em estado de exceção. Confrontos se espalharam pelo centro de Quito, praticamente paralisado, com as ruas ocupadas por manifestantes e pelas forças de segurança. Indígenas respondiam com pedras e coquetéis molotov às bombas de gás e disparos de balas de borracha. Blindados da tropa de choque avançavam em direção a grupos de encapuzados.
;Aqui estão violando os direitos humanos!”, protestou um dirigente das comunidades indígenas amazônicas, Marlon Vargas, em vídeo transmitido pela Conaie. A organização, que na véspera tinha rejeitado uma proposta de diálogo mediada pela Igreja Católica, festejou a chegada da caravana partida da Amazônia para se unir aos milhares que se deslocaram das regiões andinas, mais próximas à capital.
A ocupação de poços de petróleo na floresta reduziu fortemente a produção e o escoamento da principal fonte de divisas do país. No vídeo da Conaie, Vargas denunciou a ação dos militares e convocou os liderados a intensificar os protestos. ;Dentro de nossos territórios estão os destacamentos, os batalhões (do Exército). Agora, devemos agir, irmãos, fortemente, porque eles estão nos matando aqui.;
A alta dos combustíveis resultou da retirada de subsídios, parte do pacote de austeridade acertado por Moreno em troca de um empréstimo de US$ 4 bilhões negociado com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Depois de ter recebido a solidariedade de sete governos latino-americanos, entre eles o do Brasil, o presidente equatoriano obteve ontem o apoio do secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, para que ;institucionalize as práticas democráticas e aplique as reformas econômicas necessárias;.
2 mil
Total aproximado de detidos em 10 dias de manifestações e confrontos