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Indígenas e governo do Equador abrem diálogo para tentar resolver crise

O diálogo se segue aos protestos mais violentos registrados no Equador em muito tempo

Agência France-Presse
postado em 13/10/2019 19:44

Manifestações em QuitoO movimento indígena e o governo do Equador abrem neste domingo (13/10) o diálogo para tentar solucionar a violenta crise que eclodiu há 12 dias devido aos ajustes econômicos acordados com o FMI.

As partes conversarão em Quito, onde na véspera os protestos contra as medidas se degradaram em uma onda de caos, com o prédio da Controladoria em chamas e dois veículos de comunicação - um jornal e uma emissora de TV - invadidos por encapuzados, o que levou o governo a impor o toque de recolher na cidade.

Neste domingo, as autoridades flexibilizaram por algumas horas a restrição à circulação.

Dezenas de manifestantes voltaram às ruas e acenderam fogueiras. Em alguns pontos, a polícia usou bombas de gás lacrimogênio para conter seu avanço, embora não tenham sido registrados confrontos tão violentos quanto os de sábado.

Vindos de vários pontos do país, os indígenas, que se desvincularam dos atos violentos, se recolherão à noite no toque de recolher, que voltará a vigorar plenamente a partir das 20H00 locais (22H00 de Brasília).

Mas, segundo sua liderança, vão permanecer na cidade até alcançar um acordo sobre a eliminação de subsídios que aumentou em até 123% os preços do diesel e da gasolina.

"Permanecemos em Quito, não só os dirigentes, mas também as bases, e permaneceremos até que haja uma solução", disse à AFP Salvador Quishpe, que integra a comissão política da Confederação de Nacionalidades Indígenas (Conaie).

A organização aborígene espera alcançar um acordo que revogue ou abra a via para a revisão do decreto sobre o fim dos subsídios. Esperamos "um ponto de equilíbrio e isso poderia ser que (o combustível) não suba como subiu, mas com um percentual menor", acrescentou Quishpe.

O presidente Lenín Moreno, que ofereceu aos indígenas um diálogo direto, está em Guayaquil, para onde transferiu a sede presidencial, após decretar o estado de exceção nacional em 3 de outubro e mobilizar as Forças Armadas.

Com ajuda da ONU e da Igreja católica, as partes deveriam se reunir a partir das 15h00 locais (17h00 de Brasília), mas o início foi retardado por "dificuldades operacionais", segundo as Nações Unidas.

Múltiplos destroços

O presidente agradeceu a decisão dos povos originários de finalmente dialogar depois de rejeitarem um primeiro convite.

O diálogo se segue aos protestos mais violentos registrados no Equador em muito tempo.

"É um dia triste para o Equador, para Quito, para a história do nosso país", lamentou no sábado o presidente em mensagem à Nação.

Neste domingo, grandes destroços podiam ser vistos em vários pontos da cidade. Em uma rua, jazia o esqueleto de um carro da polícia devorado pelo fogo.

No Vaticano, o papa Francisco declarou que "acompanha com preocupação" a situação no Equador e incentivou "buscar a paz social", antes da oração do Angelus.

Desde que as manifestações começaram, foram registrados sete mortos, 1.340 feridos e 1.152 detidos, segundo o balanço mais recente da Defensoria do Povo.

O protesto, que começou em 2 de outubro, também mantém interrompido o transporte de petróleo - a maior fonte de divisas - pelo principal oleoduto do país, devido à ocupação de poços na Amazônia.

"Forças obscuras"

Amparado na figura da exceção, que a princípio permite restringir alguns direitos por 30 dias, o governo já tinha disposto o toque de recolher em volta de prédios públicos da capital.

No sábado, Moreno acusou seu antecessor, Rafael Correa, e o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, de estar por trás da violência. Ambos debocharam antes de acusações similares.

"Forças obscuras, vinculadas à delinquência política organizada e chefiada por Correa e Maduro - em cumplicidade com o narcoterrorismo, com gangues, com cidadãos estrangeiros violentos - causaram desalento e uma violência nunca antes vista", expressou.

Na Bélgica, onde evita uma ordem de prisão, Correa escreveu no Twitter que "Moreno não só não pode continuar governando, mas "tem que ser julgado por seus crimes".

No poder desde 2017, o presidente enfrenta a pior crise pelas reformas que acertou com o FMI para aliviar o pesado déficit fiscal que ele atribui ao esbanjamento, ao endividamento e à corrupção no governo Correa.

Além do fim dos subsídios, as medidas preveem cortar direitos de funcionários públicos.

Os indígenas, que representam 25% dos 17,3 milhões de equatorianos, são o setor mais castigado pela pobreza e trabalham sobretudo no campo.

Com a libertação nos preços dos combustíveis, precisam pagar mais para transportar seus produtos ao mesmo tempo em que temem uma inflação generalizada.

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