postado em 14/10/2019 04:15
Os prejuízos provocados pelas queimadas são inúmeros, e os danos à natureza e à população das regiões afetadas, incontáveis. Na tentativa de reduzir ao máximo os estragos causados pelo fenômeno, pesquisadores norte-americanos desenvolveram um gel que reduz as chances de propagação das chamas. Segundo os criadores, o fluido biodegradável ajuda a reter o fogo em vegetações mais propensas a incêndios. Detalhes sobre a substância foram apresentados recentemente na revista Proceedings of National Academy of Sciences (Pnas).
Para evitar que incêndios tomem proporções maiores, bombeiros costumam usar substâncias supressoras e retardantes do fogo. As mais comerciais e amplamente empregadas utilizam fosfato de amônio ou seus derivados como componente ativo. Elas têm formato de gel, que ajuda a transportar a água e polímeros superabsorventes semelhantes aos presentes em fralda. Porém, a grande maioria tem tempo de duração curto. Elas perdem a eficácia quando a água aprisionada evapora, algo que geralmente ocorre em menos de uma hora. Segundo especialistas, essas características limitam o uso em áreas selvagens, que são mais distantes.
A tecnologia desenvolvida por cientistas da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, também é um fluido semelhante a um gel. Esse, porém, é feito à base de celulose e permanece na vegetação com ajuda da ação do vento, da chuva e de outras exposições ambientais. ;Você pode colocar 20 mil galões desse material em uma área para prevenção, ou 1 milhão de galões da formulação tradicional após o início do incêndio;, explica, em comunicado, Anthony Yu, estudante de doutorado em ciência e engenharia de materiais na universidade estadunidense e um dos autores do estudo.
Os pesquisadores trabalharam em parceria com o Departamento de Silvicultura e Proteção contra Incêndios da Califórnia (CalFire) para testar se o material retardante à base de celulose obtém resultados positivos na grama e em arbustos ; dois tipos de vegetação em que, frequentemente, o fogo começa. Nos experimentos, descobriram que a solução fornece proteção completa contra incêndios, mesmo após meia polegada de chuva. A equipe comparou o efeito com uma formulação retardadora comercial tradicional e detectou uma queda na proteção quando comparada com o novo material.
Agora, os criadores do gel trabalham com o Departamento de Transportes da Califórnia e o CalFire para testar o material em áreas de alto risco na estrada, que são a origem de dezenas de incêndios florestais a cada ano. ;Não temos uma ferramenta comparável a isso. Temos o potencial de reduzir definitivamente o número de incêndios com o uso dessa nova tecnologia;, avalia Alan Peters, chefe da divisão CalFire, na região de San Luis Obispo, e participante dos testes.
Os cientistas enfatizam que grande parte dos incêndios florestais é gerada por humanos. As origens mais comuns são estradas e acampamentos. Dessa forma, fazer um tratamento profilático nessas áreas com o novo gel poderá fornecer uma abordagem altamente direcionada à prevenção de incêndios florestais. ;O que fazemos, hoje, é monitorar áreas propensas a incêndios, esperar até que eles comecem e, só depois, correr para apagá-los;, destaca Eric Appel, também autor do estudo e professor-assistente de ciência e engenharia de materiais na Universidade de Stanford. ;Esse novo fluido tem o potencial de tornar o combate a incêndios florestais muito mais proativo do que reativo;, complementa.
Os criadores também destacam que o novo gel contém apenas materiais não tóxicos, usados comumente em medicamentos, cosméticos e produtos agrícolas. Segundo eles, isso faz com que o fluido possa ser aplicado usando um equipamento de pulverização agrícola padrão ou a partir de aeronaves, outro ponto positivo da tecnologia. ;Esperamos que esse material possa abrir as portas para produtos semelhantes e, dessa forma, consigamos proteger a natureza, a vida e os meios de subsistência das pessoas;, ressalta Appel.
"Esse novo fluido tem o potencial de tornar o combate a incêndios florestais muito mais proativo do que reativo;
Eric Appel, um dos criadores e professor da Universidade de Stanford