postado em 15/10/2019 04:16
O Equador anunciou um acordo para acabar com sua pior crise em décadas e agora enfrenta a missão de reparar os danos depois de 12 dias de fúria em Quito contra medidas de austeridade: prejuízos milionários, sete mortos e centenas de feridos e detidos. A capital do país foi cenário de protestos violentos, que devem acabar depois do anúncio de um compromisso, no domingo à noite, entre o governo do presidente Lenín Moreno e o movimento indígena, que liderou as manifestações. A negociação entre as partes contou com a mediação da ONU e da Igreja Católica.
A situação provocada pelo protesto radical indígena causou uma ;fratura que será muito difícil de recuperar;, afirmou à agência France-Presse (AFP) Pablo Romero, especialista na questão indigenista da Universidade Salesiana. Ele também apontou que a crise alimentou o racismo em um país onde os indígenas representam 25% dos 17,3 milhões de habitantes.
O Executivo aceitou o pedido da Confederação de Nacionalidades Indígenas (Conaie) para desmobilizar milhares de seus integrantes que viajaram a Quito: revogar o decreto presidencial 883 que eliminou os subsídios aos combustíveis. A decisão, com a qual o Estado pretendia economizar US$ 1,3 bilhão por ano, provocou, em 3 de outubro, um aumento de até 123% nos preços do diesel e da gasolina, em uma nação que enfrenta graves problemas financeiros.
;O governo substituirá o decreto 883 por um novo que contenha mecanismos para concentrar os recursos nos que mais precisam;, escreveu Lenín Moreno em seu perfil no Twitter. Os indígenas, que participaram nas derrubadas de três presidentes entre 1997 e 2005, conquistaram uma vitória ;simbólica; após as manifestações da semana passada, afirma Romero. Inicialmente, as manifestações foram lideradas por estudantes e trabalhadores, o que levou o mandatário a decretar estado de exceção no dia em que os aumentos entraram em vigor.
Ao mesmo tempo, Romero considera que todos sofreram derrotas. ;O governo porque foi possível observar todas as suas fragilidades; a Conaie pela divisão em sua cúpula; e o país por tudo o que significou o protesto, em particular em Quito;.
FMI
Depois de comemorar no domingo nas ruas de Quito, algumas ainda com barricadas, os nativos começaram a retornar para suas comunidades do interior do país em meio ao toque de recolher e militarização impostos na capital. O fim dos subsídios aos combustíveis ; aplicados há 40 anos ; durou quase duas semanas. A medida foi estabelecida em um acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) para liberar ao país créditos de US$ 4,2 bilhões com o objetivo de aliviar o pesado deficit fiscal.