postado em 17/10/2019 04:17
[FOTO1]À espera do vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence, que viajou para a Turquia para discutir a crise aberta pela invasão de tropas turcas no norte da Síria, o presidente Recep Tayyip Erdogan rejeitou ontem o chamado de Donald Trump para que declare um cessar-fogo. Ele descartou também a possibilidade de qualquer negociação com os combatentes curdos que controlam a região, classificados como ;terroristas; pelo governo de Ancara, e reafirmou que a operação militar prosseguirá até que eles sejam empurrados para ao menos 32km de distância da fronteira.
;Dizem que devemos declarar um cessar-fogo, mas nunca poderemos fazê-lo enquanto não expulsarmos a organização terrorista;, afirmou Erdogan, em discurso perante o parlamento turco. ;Nossa proposta é que agora, nesta noite (ontem), todos os terroristas entreguem as armas e equipamentos, destruam suas fortificações e abandonem a zona de segurança que estabelecemos;, completou.
O governo turco esclareceu que ;prevê, é claro;, reunir-se com o vice-presidente americano e com o secretário de Estado, Mike Pompeo, enviados por Trump no esforço de impedir que a crise degenere em uma guerra entre Síria e Turquia. A incursão ordenada por Erdogan se seguiu a decisão de Washington de retirar da área as tropas que mantinha desde a intervenção contra o ;califado; proclamado pelo grupo jihadista Estado Islâmico (EI). Os combatentes curdos foram aliados fundamentais para os EUA nessa frente, mas desde a ofensiva turca passaram a somar forças com o presidente sírio, Bashar al-Assad, que enviou o Exército para a região.
Preocupado também com o risco de um confronto direto entre forças sírias e turcas, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, aliado de Assad, convidou Erdogan a visitar Moscou para discutir a situação. Inicialmente, a Turquia confirmou o encontro para a próxima terça-feira. Forças russas que apoiam o regime de Damasco deslocaram-se para a fronteira e patrulham posições entre as ocupadas por tropas sírias e turcas, para prevenir a ocorrência de escaramuças. Ontem, elas acompanharam os aliados na ocupação da cidade de Kobane, de população majoritariamente curda.
Preocupação
Desde o início das ooperações turcas, o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH) registrava até ontem a morte de ao menos 71 civis, 158 combatentres curdos e 128 milicianos sírios pró-turcos. De acordo com as Nações Unidas, os combates provocaram a fuga de mais de 160 mil pessoas, na maioria civis curdos que buscaram abrigo em território com presença da etnia no vizinho Iraque. Ontem, ônibus desembarcaram refugiados em um acampamento de emergência instalado próximo à cidade de Dohuk, no Curdistão iraquiano. Em declaração unânime, os 15 países que integram o Conselho de Segurança da ONU manifestaran ;grande preocupação; com a deterioração da situação humanitária no norte da Síria e pediram o fim da ofensiva militar da Turquia.
As preocupações se voltam também para a situação de cerca de 12 mil militantes do Estado Islâmico detidos na região, sob custódia de combatentes curdos, desde que o grupo perdeu as últimas cidades sob seu controle. No fim de semana, foi noticiada a fuga de centenas de familiares de jihadistas de um campo onde eram mantidos sob vigilância. O comandante das Forças Democráticas Sírias (FDS), a principal milícia curda, confirmou ontem que suas forças suspenderam as operações de combate ao EI.
Congresso vota
censura a Trump
Por 354 votos contra 60, com a adesão de dezenas de republicanos (governistas), a Câmara dos Deputados dos Estados Unidos votou ontem uma resolução proposta pela maioria democrata (oposição) que condena o presidente Donald Trump pela decisão de retirar as tropas americanas do norte da Síria, abrindo caminho para a incursão militar da Turquia contra os curdos. Criticado duramente por abandonar os aliados na luta contra o Estado Islâmico (EI), Trump chegou a advertir o governo turco para que ;não passe dos limites; e aprovou uma primeira rodada de sanções econômicas ao regime de Ancara. Mas respondeu duramente à moção aprovada pelo Congresso, que, embora de valor simbólico, expôs o isolamento político do presidente na questão. ;Está na hora de virmos para casa. Os EUA não são a polícia do mundo;, afirmou. O presidente argumentou que a fronteira sírio-turca ;não é a nossa fronteira; e ponderou que os combatentes curdos ;não são anjinhos;.