postado em 24/10/2019 04:15
[FOTO1]No sexto dia consecutivo de protestos que varrem o Chile, foram os sindicatos que comandaram marchas pelas ruas de Santiago e das principais cidades do país, como parte de uma greve geral de 48 horas convocada para impulsionar uma agenda de reivindicações econômicas e sociais ; mas tendo como ponto de partida a revogação do estado de emergência imposto desde sábado e do toque de recolher, mantido ontem pela quinta noite. Os dirigentes sindicais rejeitaram um pacote de medidas paliativas anunciado na véspera pelo presidente Sebastián Piñera, acompanhado por um pedido de perdão por sua ;falta de visão;, e apontaram a saída do Exército das ruas como condição para estabelecer um diálogo.
A explosão de descontentamento provocada pelo aumento de 3,75% nas passagens de metrô, há uma semana, mantém a capital semiparalisada, com os transportes em funcionamento parcial e o comércio aberto irregularmente. O saldo de vítimas subiu ontem para 18, com a morte de mais três pessoas, entre elas uma criança de quatro anos, atropelada com um adulto por um motorista embriagado que investiu sobre manifestantes. Outra pessoa teria morrido após ser agredida por policiais, segundo a família.
A Central Unitária dos Trabalhadores (CUT) e mais 20 organizações sociais assumiram a convocação da greve geral, que teve também a adesão de estudantes, funcionários públicos e servidores da saúde. ;Demandamos ao governo que restitua a institucionalidade democrática, o que significa, em primeiro lugar, acabar com o estado de emergência e devolver os militares aos quartéis;, diz o comunicado conjunto dos movimentos sociais. ;À greve! Afirmamos de maneira forte e clara: basta de aumentos e abusos!”, reforçou pelo Twitter a CUT, principal central sindical do país.
Recuo
Além de ter apresentado pela pimeira vez algum tipo de direção política reconhecível, a mobilização de ontem marcou a rejeição ao pacote anunciado pelo presidente, ao fim de uma reunião com dois partidos da oposição moderada. Dois dias depois de ter classificado a onda de protestos como uma ;guerra;, o direitista Sebastián Piñera recuou, em pronunciamento pela tevê. ;Reconheço a falta de visão e peço desculpas aos meus compatriotas;, disse. ;Recebemos com humildade e clareza a mensagem que os chilenos nos deram.;
Entre as medidas anunciadas, o presidente determinou um aumento de 20% nas aposentadorias de menor valor e um complemento de renda para o salário mínimo, a cargo do Estado. Uma alta de 9,2% nas contas de luz foi revogada, e o governo propôs a criação de um seguro para a compra de medicamentos. Piñera acenou também com a elevação dos impostos para os mais ricos, com a redução do número de congressistas e com a limitação das reeleições.
À primeira vista, porém, a iniciativa não satisfez os manifestantes que desfilavam ontem em Santiago. ;Achei uma piada! Ele acha que com isso vai acalmar o povo?;, disse à agência de notícias France-Presse Ximena Gutiérrez. ;Não, não vai acalmar. Isso vai continuar, porque não vamos continuar calados.; Carlos Morales, 23 anos, acusou o presidente de ser ;mentiroso; e agora, ;quando está com problemas, vem pedir perdão;.
A ex-líder estudantil Camila Vallejo, hoje deputada pelo Partido Comunista, reclamou ;uma mudança radical da institucionalidade, que está sendo questionada, está em crise;. Assim como o Partido Socialista, principal força de oposição, e a Frente Ampla, de esquerda radical, os comunistas recusaram o convite de Piñera ao diálogo com o país sob estado de emergência. ;Hoje, veremos a resposta da sociedade civil, se está ou não de acordo com o anúncio do presidente;, afirmou a deputada.