Agência France-Presse
postado em 24/10/2019 13:19
[FOTO1]O Chile enfrenta um novo dia de manifestações nesta quinta-feira (24/10), depois dos dias de tumultos sociais que totalizam 18 mortes e que não parecem ceder, em um país onde muitos querem voltar à vida normal, enquanto outros optam por continuar nas ruas em busca de uma mudança profunda no sistema econômico.
A Central Unitária de Trabalhadores (CUT) e cerca de 20 organizações sociais convocaram um segundo dia de paralisação nesta quinta-feira, mas, pela manhã, muitos habitantes foram trabalhar no centro de Santiago, e o comércio abriu timidamente suas portas.
"O que o presidente Piñera fez até agora é polarizar e estressar o país. Hoje temos jovens nas ruas com um rifle nas mãos contra seus compatriotas", criticou Barbara Figueroa, presidente da CUT, o sindicato mais poderoso do Chile.
Durante a noite, no quinto dia de toque de recolher, os tumultos se acalmaram no centro de capital, embora na periferia a situação permanecesse tensa, com saques e incêndios que não param em um país em estado de emergência e com milhares de pessoas e militares nas ruas.
Nesta quinta, o presidente Sebastián Piñera anunciou um plano para acabar com o toque de recolher aplicado por cinco dias consecutivos em várias regiões do país desde que uma crise social teve início na semana passada.
"Estamos trabalhando em um plano para normalizar a vida do nosso país (...) para poder terminar com o toque de recolher e, com sorte, também poderemos suspender o estado de emergência", disse o presidente em uma mensagem à imprensa.
Esse plano começou a ser aplicado a partir de quarta-feira em Santiago, onde o toque de recolher foi reduzido para seis horas, das 22h às 16h.
O estado de emergência foi decretado no sábado (19/10), após um violento dia de protestos na sexta-feira pelo aumento de quase 4 centavos no bilhete do metrô. Depois, a pauta dos manifestantes incluiu outras demandas sociais, com saques em supermercados e empresas, além de queima de várias estações de metrô.
Até agora, chega a 18 o número de mortos pelas manifestações, entre eles cinco agentes do Estado, em meio a crescentes denúncias de abuso policial e militar.
Um relatório mais recente do Instituto Nacional de Direitos Humanos (NHRI) também relata que 535 pessoas ficaram feridas - 239 delas por armas de fogo - e 2.410 foram detidas.
Com os militares vigiando as estações das três linhas do metrô que funcionam parcialmente, muitos dos sete milhões de habitantes de Santiago tentaram retornar à normalidade sete dias após o início da crise.
No dia anterior, quatro hotéis foram saqueados e moradores usando coletes amarelos realizaram rondas de vigilância em comunidades periféricas para evitar roubos e saques.
Crise que não cede
As manifestações se tornaram um movimento muito maior, heterogêneo e sem liderança identificável, o que coloca outras demandas sobre a mesa, principalmente um aumento nas pensões muito baixas no sistema privado, que permanece como uma herança da ditadura de Augusto Pinochet (1973- 1990).
"Esta já é a reivindicação de um país inteiro. Estamos cansados", gritou um manifestante no meio de uma multidão que fez um panelaço nas ruas de Santiago.
[SAIBAMAIS]O anúncio de uma série de medidas por parte do presidente Piñera na terça-feira (22/10) parece não ter tido o efeito desejado.
O governo prometeu uma melhoria nas pensões dos mais pobres, a suspensão de um aumento de 9,2% nas contas de luz, um aumento no salário mínimo, mais impostos para aqueles com renda mais alta e uma diminuição nos gastos parlamentares e altos salários públicos.
"Esperávamos que esse momento de conflito social aumentasse a sensibilidade, mas são as mesmas propostas de meses atrás", lamentou Izkia Siches, presidente da Faculdade de Medicina, também presente nas mobilizações.
Na terça-feira, Piñera pediu "perdão" e reconheceu sua "falta de visão" para antecipar a crise, dois dias depois de afirmar que o país estava "em guerra".