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Manifestações deixam 24 mortos no Iraque

Protestos contra corrupção, por empregos e pela melhoria dos serviços públicos irrompem em Bagdá e no sul. Sedes de partidos políticos são queimadas

postado em 26/10/2019 04:06
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Depois de três semanas de pausa, uma nova onda de protestos irrompeu em Bagdá e no sul do Iraque, deixando pelo menos 24 mortos. Os manifestantes atacaram prédios de instituições e de partidos políticos. De acordo com testemunhas, metade das vítimas foram assassinadas quando tentavam invadir escritórios de uma milícia xiita em duas cidades ao sul. Na capital, os agentes dispararam gás lacrimogêneo para dispersar milhares de manifestantes que se reuniram nos acessos à Zona Verde, onde estão os principais órgãos do governo e a embaixada dos Estados Unidos.

;De acordo com relatórios preliminares, dois ativistas morreram atingidos no rosto por uma granada de gás lacrimogêneo;, afirmou à agência France-Presse Ali Al-Bayati, membro da Comissão para os Direitos Humanos do governo iraquianos. Pelo menos 500 pessoas ficaram feridas em diversas regiões. Os civis tomaram as ruas para exigir empregos, melhores serviços públicos e o fim da corrupção. Os protestos deflagrados no começo do mês também foram marcados pela violência e deixaram, entre 1; e 6 de outubro, 157 mortos. Outros cinco manifestantes foram assassinados a tiros em Nassiriya (sul), e um oitavo, nos incêndios deflagrados em várias sedes de partidos políticos em Samawa, também no sul do país, relataram fontes médicas e policiais.

Militares
No poder há um ano, o governo do primeiro-ministro Adel Abdel Mahdi decretou a mobilização geral das forças de segurança a partir da noite de quinta-feira para conter os distúrbios. Milhares de manifestantes atearam fogo à sede do governo da província de Zi Qar (sul). Um correspondente da agência France-Presse relato ter observado colunas de fumação saindo do prédio, diante do qual milhares de pessoas estavam concentradas.

Moqtada Al-Sadr, antigo líder de milícia e agora convertido em arauto dos protestos, convocou seus seguidores a ocuparem as ruas e afirmou que seus combatentes estão preparados para ;proteger os manifestantes;. Vencedor das eleições legislativas e integrante da coalizão de governo, Al-Sadr exige a demissão do gabinete e a antecipação das eleições. Em recente demostração de força, combatentes das ;;Brigadas da Paz;, de Al-Sadr, apareceram armados durante desfiles em seu bastião de Bagdá, conhecido como Sadr City. Ontem à noite, o ministro do Interior do Iraque, Yasin Al-Yaseri, se dirigiu à Praça Tahrir para garantir que as forças de seguraça estavam presentes para ;proteger; os manifestantes.

;Quero minha parte do petróleo;, disse à agência France-Presse uma manifestante na Praça Tahrir. Cerca de 20% da população iraquiana vive abaixo da linha da pobreza. ;Os supostos representantes do povo monopolizaram todos os recursos;, gritou outro manifestante. Nesse contexto de tensão, o aiatolá Ali Sistani, a mais alta autoridade religiosa xiita do Iraque, defendeu reformas e o fim da corrupção, durante sermão proferido ontem. Ele não indicou, porém, como já fez no passado com outros primeiros-ministros, que se solidarizava com o premiê Mahdi.

Em resposta aos protestos, o primeiro-ministro anunciou uma série de medidas, tornou públicas as listas de centenas de cargos públicos atribuídos a jovens graduados e prometeu pensões para as famílias dos manifestantes mortos como ;mártires;. A população exige nova Constituição e a renovação total da classe política. O governo ainda tem o apoio da poderosa Hashd Al-Shaabi, uma coalizão paramilitar dominada por milícias xiitas pró-iranianas. É o segundo bloco parlamentar e membro da coalizão governamental.

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