Agência Estado
postado em 29/10/2019 20:15
Motoristas de transporte público se enfrentaram em La Paz nesta terça-feira com paus e pedras com manifestantes, em uma tentativa de romper barreiras que impedem o tráfego na segunda semana de protestos na Bolívia contra o presidente Evo Morales, a quem a oposição acusa de fraude nas eleições presidenciais de 20 de outubro.
Os ânimos estavam exaltados e choques similares ocorriam em outros bairros e outras cidades. A polícia dispersou os grupos rivais com gás lacrimogêneo. Na segunda-feira, outros enfrentamentos deixaram 40 feridos, vários deles baleados, nas cidades de Cochabamba e Santa Cruz, que está há mais de seis dias em greve em "defesa do voto e contra a fraude eleitoral".
A polícia informou que 20 pessoas foram detidas. Enquanto isso, a Organização das Nações Unidas fez um pedido aos atores políticos de que "reduzam tensões" e rechacem qualquer ato de violência no quadro atual. A ONU ainda pediu a garantia do exercício dos direitos fundamentais a todas as pessoas, inclusive a liberdade de expressão, opinião e o direito a se manifestar pacificamente.
Morales, por sua vez, proclamou seu triunfo na segunda-feira com uma grande concentração na vizinha cidade de El Alto. "Que demonstrem onde está a fraude", afirmou, acusando a direita de buscar um golpe de Estado para derrubá-lo. O vice-presidente, Álvaro García, reiterou nesta terça-feira a posição do governo a favor de uma auditoria eleitoral a cargo da Organização dos Estados Americanos (OEA).
A oposição - liderada pelo ex-presidente Carlos Mesa, que ficou em segundo na eleição - defende novas eleições ou um segundo turno. O governo já disse estar disposto a permitir uma auditoria no processo eleitoral, mas não há nada ainda concreto nesse sentido.
Presidente do Diálogo Interamericano e professor da Universidade Georgetown, Michael Shifter alerta que as mobilizações poderiam perdurar, "o que tornaria o país praticamente ingovernável". Shifter comentou que o progresso social e econômico do país no governo atual "é inegável, mas isso não lhe dá o direito de passar por cima da Constituição e da decisão de seus cidadãos".
Já o analista Roberto Laserna avalia que "as saídas legais parecem encerradas após a finalização da polêmica recontagem de votos, mas resta uma saída política no âmbito de um acordo que ainda não vemos". Fonte: Associated Press.