postado em 30/10/2019 04:06
[FOTO1]Com o tom grave, o primeiro-ministro libanês, Saad Hariri, fez o seu último pronunciamento ao Líbano na condição de chefe de governo. ;Há 13 dias, o povo libanês espera por uma decisão fornecendo uma solução política para conter a deterioração. Eu tentei de tudo ao longo do tempo para encontrar uma saída que nos capacitasse a ouvir a voz da população e protegesse nosso país de ameaças à segurança, à economia e ao modo de vida;, afirmou. ;Eu não posso ocultar isso de vocês. Francamente, cheguei a um ponto morto e incumbe a mim causar um grande choque para enfrentar a crise. Estou me dirigindo ao Palácio Baabda para entregar minha renúncia do governo à Sua Excelência, o presidente, general Michel Aoun, e ao povo em geral, como resposta ao desejo de muitos libaneses que tomaram as ruas pedindo mudanças; , acrescentou. ;A todos os meus colegas políticos, nossa responsabilidade hoje é como proteger o Líbano e impulsionar a economia. Esta é uma oportunidade série e não deveríamos desperdiçá-la.;
Hariri fez um apelo a todos os compatriotas ;para que avancem no interesse, na segurança do Líbano, na proteção da paz civil e na prevenção da deterioração econômica, acima de qualquer coisa;. Saad é filho de Rafik Hariri, o bilionário e ex-primeiro-ministro assassinado em 14 de fevereiro de 2005, durante a explosão de carro-bomba, em Beirute. O premiê demissionário chegou a sofrer um golpe perpetrado por uma coalizão liderada pela mlícia fundamentalista Hezbollah e formada por xiitas e cristãos, enquanto ele viajava a Washington, em 2011.
Para o ativista de direitos humanos Georges Azzi, morador de Beirute, a renúncia de Hariri é ;o primeiro passo;. ;Mais etapas precisam ser concluídas. Entre elas, um governo tecnocrata, eleições antecipadas, uma nova lei eleitoral e um novo presidente. Nós permaneceremos nas ruas até que todas as nossas demandas sejam atendidas;, afirmou ao Correio. Segundo ele, a convulsão social no Líbano foi precipitada pela ;desastrosa situação econômica;. ;As autoridades administraram mal os incêndios florestais que devastaram o país. Depois, decidiram criar mais impostos;, criticou.
Por meio do porta-voz Farhan Aziz Haq, o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, exortou os libaneses a terem ;calma e moderação;, depois da renúncia de Saad Hariri e de seu gabinete. ;Guterres pede a todos os atores políticos que encontrem uma solução política para preservar a estabilidade do país e responder às aspirações do povo libanês;, declarou. O português também pediu a ;todos os atores do Líbano que evitem recorrer à violência e respeitem o direito à liberdade de expressão e a reuniões pacíficas;.
O discurso de renúncia do premiê foi recebido com entusiasmo pela multidão, que reagiu ostentando a bandeira do país, soltando fogos de artifício e cantando o hino nacional, enquanto carros faziam um buzinaço, em Beirute. Mais cedo, várias pessoas invadiram o local principal dos protestos e rasgou tendas, aos gritos de ;Xiitas! Xiitas!”, em apoio ao Hezbollah e ao partido política Amal.
O levante sem precedentes no Líbano explodiu em 17 de outubro passado, depois que o governo anunciou um imposto sobre chamadas via WhatsApp. A medida foi cancelada e, quatro dias depois, Hariri divulgou um pacote de reforma que surtiu pouco efeito na sociedade e contemplava medidas contra a corrupção, um orçamento desprovido de novos impostos, um programa de privatizações e ajuda aos mais desfavorecidos.
Desde o último dia 16, o Líbano está praticamente paralisado, e barreiras foram erguidas pelos manifestantes nos principais acessos a Beirute, segundo a agência de notícias France-Presse. A derrocada econômica, consequência dos 15 anos de guerra civil (1975-1990), e a corrupção ; uma das mais graves do planeta ; castigam a população de 6,1 milhões de libaneses.
;Francamente, cheguei a um ponto morto e incumbe a mim causar um
grande choque para enfrentar a crise;
Saad Hariri, primeiro-ministro demissionário do Líbano