Agência France-Presse
postado em 31/10/2019 14:39
[FOTO1]O presidente Barham Saleh propôs, nesta quinta-feira, eleições antecipadas no Iraque, distante das esperanças do movimento de contestação que exige a "queda do regime" inteiro após sangrentos protestos que deixaram mais de 250 mortos.
Saleh, que tem se reunido com os líderes partidários há dias, acrescentou que o primeiro-ministro, Adel Abdel Mahdi, "concorda com renunciar" desde que os blocos no Parlamento se entendam quanto a um substituto.
Qual seja o futuro de Abdel Mahdi, "quero assegurar que na condição de presidente da República, aprovo a realização de eleições antecipadas no âmbito de uma nova lei eleitoral (...)", declarou Saleh em discurso. A lei será submetida ao Parlamento na "próxima semana".
Enquanto as negociações políticas continuam, as concentrações nas praças do sul do país e na Praça Tahrir de Bagdá não param de aumentar dia e noite.
Os manifestantes, mobilizados desde 1; de outubro, com uma interrupção de três semanas para uma peregrinação xiita, dizem que não voltarão para suas casas até que "todo o regime tenha sido derrubado".
"A demissão de Abdel Mahdi seria apenas parte da solução. O problema que temos é com os partidos no poder", declarou Haydar Kazem, manifestante de 49 anos em Bagdá.
Em um dos países mais corruptos do mundo, onde os cargos são distribuídos de acordo com confissões religiosas e etnias, o sistema político criado após a queda de Saddam Hussein em 2003 deve ser completamente redesenhado, afirmam.
- Em direção a uma resolução -
A maioria governamental está dividida. Por um lado, o líder xiita Moqtada Sadr, acostumado a posições populistas, está presente entre os manifestantes.
Por outro lado, Hadi al Ameri, chefe dos apoiadores paramilitares do Irã, alinhou-se com Teerã, que acredita que o "vazio" levará ao caos.
No entanto, a renúncia ou demissão de Abdel Mahdi, um independente sem partido ou base popular, depende da aprovação do parlamento.
Desde segunda-feira, a assembleia, que convocou o primeiro-ministro, se reúne diariamente.
No entanto, até o momento, o chefe de governo não apareceu.
Nesta quinta, Saleh recebeu representantes dos principais partidos, disse uma fonte de seu gabinete à AFP, para discutir o futuro de Mahdi.
"Estamos nos aproximando de uma resolução", acrescentou a fonte.
"Estamos cansados da situação dos últimos 16 anos", diz Salwa Mazher, que a AFPTV encontrou na Praça Tahrir, em Bagdá.
"Tudo vai de mal a pior, então é preciso arrancar o mal pela raiz", acrescenta.
Em Diwaniya, 200 km ao sul de Bagdá, a mobilização ganhou uma magnitude inédita, segundo um correspondente da AFP.
Nesta quinta-feira, os alunos saíram às ruas para se manifestar, bem professores em greve geral, incluindo funcionários da maioria das instituições.
Novas concentrações foram formadas em Nasiriya, Samawa e Amara, de acordo com correspondentes da AFP.
Em Basra, a cidade petrolífera do extremo sul, os manifestantes bloquearam a estrada que leva ao porto de Umm Qasr, o que suscita preocupações sobre importações, principalmente alimentos, segundo as autoridades.
A primeira semana de protestos, de 1o. a 6 de outubro, registrou oficialmente a morte de 157 pessoas.
O movimento foi retomado em 24 de outubro.
Cem pessoas foram mortas desde então, segundo um balanço oficial.