postado em 01/11/2019 04:06
[FOTO1]A ideia de finalmente substituir a ordem constitucional herdada em 1990 da ditadura do general Augusto Pinochet foi colocada ontem sobre a mesa, no Chile, em uma reunião convocada pelo presidente Sebastián Piñera com dirigentes de todos os partidos políticos. O encontro foi mais iniciativa do governo direitista para atrair a oposição a um pacto social capaz de conter a onda de protestos iniciada há duas semanas. Deflagrado pelo aumento nas passagens do metrô, o movimento se alastrou rapidamente de Santiago para as principais cidades do país e colocou em xeque toda a política econômica privatista de Piñera.
O convite se seguiu à revogação do estado de emergência, qur vigorou por nove dias, e à renovação do núcleo político do ministério. Coube ao novo titular do Interior, Gonzalo Blumel, receber no Palácio de La Moneda os líderes partidários. O Partido Socialista (PS), dono da maior bancada de oposição, decidiu participar, ao contrário do que fizera uma semana atrás, quando Piñera excluiu o Partido Comunista e a Frente Ampla (esquerda radical). ;O estado de emergência foi revogado e foram convidados todos, por isso viemos;, explicou o presidente do PS, Álvaro Elizalde. Os comunistas recusaram o chamado do presidente.
Elizalde chegou ao palácio levando a demanda por ;uma ambiciosa agenda social; para o país, que assistiu a uma explosão de revolta contra os efeitos de longo prazo de um modelo econômico implantado sob a ditadura militar e apenas retocado ao longo das últimas décadas. Salários comprimidos e aposentadorias defasadas tornam inacessíveis para um número crescente de chilenos os serviços de saúde e educação, além das tarifas de energia e dos transportes públicos. A despeito do estado de emergência, do toque de recolher e da presença do Exército nas ruas, pela primeira vez desde a redemocratização, o país assistiu a 13 dias de confrontos, incêndios e saques, com saldo de 20 mortos.
Assim como outras forças de centro e centro-direita, o PS sinalizou a disposição de aderir à proposta de colocar em marcha a redação de uma nova Constituição para o país. Desde que Pinochet deixou o poder, em 1990, após governar o país por 17 anos, a Carta Magna elaborada sob a ditadura foi apenas emendada. Entre outros dispositivos, ela estabelece um sistema político sob medida para manter o predomínio das forças conservadoras, por meio de um processo eleitoral que reduz a representação proporcional de legendas minoritárias.
;O país não aguenta mais prorrogações;, reforçou o presidente do Partido pela Democracia (PPD), Heraldo Muñoz, também favorável à nova Constituição. ;Voltamos ao La Moneda para tentar fazer com que o governo escute as ruas e entenda a necessidade de tomar medidas profundas;, concordou Carlos Maldonado, líder do Partido Radical.
A Central Unitária dos Trabalhadores (CUT), principal organização sindical do país, que comandou na semana passada uma greve geral de dois dias contra o governo, cobrou a participação de outras forças além dos partidos na mesa de negociação. ;Não é que haja uma falta deliberada de diálogo, mas é importante que haja uma instância capaz de incluir os movimentos sociais;, disse a presidente da CUT, Barbara Figueroa.