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A "ostalgia" tem o seu porta-voz

postado em 04/11/2019 04:15
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Aos 82 anos, o último líder do regime comunista na Alemanha Oriental não perdeu a forma física nem a pouca majestade que lhe coube nos dias tormentosos do segundo semestre de 1989. Egon Krenz sobreviveu a um período de prisão que classifica como ;perseguição política;. Os menos de dois anos em que ocupou o cargo mais alto em Berlim Oriental foram suficientes para que, até hoje, suas palestras atraiam o público interessado em cultivar ou estudar a ;ostalgia;, neologismo criado para representar os saudosos do socialismo prussiano erguido no pós-2; Guerra Mundial ; sob ocupação soviética.

Krenz assumiu o leme em outubro de 1989, com a República Democrática Alemã (nome oficial da metade comunista do país) imersa na terrível crise dos 40 anos. Desde meados do ano, cidadãos fugiam em massa para o Ocidente, aproveitando as férias de verão na Hungria e Tchecoslováquia, em processo de reformas estimuladas pelo então líder da União Soviética, Mikhail Gorbachov. Na noite de 9 de novembro, sob impacto da maior manifestação de protesto na história do regime, a alta cúpula cedeu e decidiu liberar a passagem dos cidadãos pela fronteira física que dividia a antiga capital alemã.

;Naquele dia, ninguém chamou o que aconteceu de ;queda do Muro;. Esse foi um termo ideológico inventado muito mais tarde;, sustenta o último líder comunista. Ele frisa que ;não houve um só disparo; no desenlace crítico da Guerra Fria. ;Derramou-se champanhe, e não sangue;, orgulha-se.

A condução pacífica de uma transição à qual o mundo inteiro assistiu atônito não poupou Egon Krenz do que classifica hoje como ;a justiça dos vencedores;. Em 1997, foi julgado pela morte de quatro cidadãos que tentavam fugir para o Ocidente, entre 1984 e 1989, e condenado a seis anos e meio de prisão. Cumpriu quatro e hoje vive de palestras nas quais defende a RDA e a URSS. ;Falam da nossa história como se a Alemanha Ocidental fosse um sucesso total e a Oriental, um fracasso absoluto. Mas não tínhamos apenas opositores;, arremata.


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