postado em 06/11/2019 04:15
[FOTO1]A pouco menos de um ano das eleições norte-americanas, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ficou mais próximo do impeachment, após uma das principais testemunhas no inquérito sobre a conexão com a Ucrânia ter mudado o depoimento. O embaixador dos EUA na União Europeia, Gordon Sondland, admitiu que o republicano esteve envolvido em um caso ;claro; de quid pro quo (;toma lá dá cá; ; termo em latim usado para se referir a algo dado a uma pessoa em troca de outra coisa). Indicado pelo próprio Trump, depois de doar US$ 1 milhão para a sua posse, o diplomata revelou ter dito a Andrei Yermak, alto conselheiro do líder ucraniano, Volodimir Zelenski, que a ajuda militar de Washington a Kiev somente prosseguiria se os ucranianos investigassem o ex-vice-presidente democrata Joe Biden, potencial adversário do magnata nas urnas. Sondland foi sabatinado a portas fechadas pelos congressistas, no último dia 17, durante 10 horas, mas revisou sua versão na última segunda-feira. Segundo o jornal The New York Times, é a primeira vez que uma personalidade em conexão direta com Trump admite que a assistência militar à Ucrânia estaria atrelada à investigação de um rival político.
;Eu disse que a retomada da ajuda americana provavelmente não ocorreria até que a Ucrânia proporcionasse o informe anticorrupção que tínhamos estado discutindo durante semanas;, declarou Sondland, no novo testemunho. Até o fechamento desta edição, Trump não tinha se pronunciado sobre a revisão no depoimento do embaixador.
Em entrevista ao Correio, Roland Riopelle, ex-procurador-federal para o Distrito Sul de Nova York, disse que o desdobramento do caso é ;negativo; para Trump. ;O testemunho revisado confirma o quid pro quo e torna mais claras as suspeitas de que o presidente se envolveu em atividade criminosa;, comentou. ;As coisas agora estão muito mais complicadas. O impeachment se tornou mais provável, pois a evidência de transgressão de Trump ganhou força.;
Também ontem, os presidentes dos três comitês da Câmara de Representantes encarregados do processo de impeachment convocaram Mick Mulvaney, chefe de gabinete interino da Casa Branca. Ele poderia prestar mais informações sobre o telefonema de Trump para Zelenski e a tentativa de Washington de chantagear Kiev. ;A investigação revelou a possibilidade de seu envolvimento direto em um esforço orquestrado pelo presidente Trump, seu advogado pessoal, Rudolph Giuliani, e outros para reter (...) quase US$ 400 milhões em assistência à segurança para pressionar (a Ucrânia) a realizar investigações que beneficiariam os interesses políticos pessoais do presidente;, escreveram os líderes dos comitês. Uma determinação da Casa Branca para que seus altos funcionários se ausentem das audiências deve tornar a convocação inócua.
;Incorreto;
Em seu depoimento revisado, Sondland disse desconhecer o motivo pelo qual a ajuda militar não foi entregue a Kiev. No entanto, ele afirmou, perante os congressistas, que compreendia que a ligação entre a investigação de Biden e a assistência militar era algo ;incorreto;. Segundo a agência de notícias France-Presse, ao ser questionado se o restante era ilegal, o embaixador respondeu: ;Não sou advogado, mas suponho que sim;.
Para James Naylor Green, historiador da Brown University (em Rhode Island), a notícia envolvendo Sondland é ;uma bomba;. ;Ele foi, talvez, a melhor testemunha de Trump. Agora, admite que percebeu que o presidente queria que ele fizesse algo ilegal e que havia quid pro quo em seus atos, um suposto suborno. Trump tentará desviar o foco para outros assuntos, como a identificação do denunciante, mas isso é realmente condenatório para o presidente;, comentou.
Green aposta que mais autoridades farão denúncias ainda mais prejudiciais para Trump. ;A questão principal são as pesquisas. Até o momento, entre 49% e 50% dos americanos querem ver o impeachment e a remoção do presidente. Se isso subir para 55% ou 60%, o magnata perderá a maioria dos independentes e alguns republicanos, o que sinalizaria a erosão de sua base de apoio.;
Eu acho...
;Infelizmente, não acredito em um impacto contundente do Senado, de maioiria republicana. Não acho que a maior parte dos senadores republicanos abandonará Trump e votará contra ele, não importa quão ruim sejam as evidências. Eles sabem que, caso o façam, muitos eleitores republicanos também os abandonarão, e os congressistas não serão reeleitos.;
Roland Riopelle, ex-procurador-federal para o Distrito Sul de Nova York