postado em 06/11/2019 04:15
Sob pressão incessante depois da terceira semana de manifestações contra o seu governo, o presidente do Chile, Sebastián Piñera, acenou ontem com uma importante concessão a diferentes forças de oposição ; da esquerda a setores da direita. Pela primeira vez, ele admitiu a ideia de mudanças profundas na Constituição herdada do período ditatorial. No entanto, reafirmou o mandato que recebeu da ;grande maioria; dos chilenos e descartou a possibilidade de renunciar, um lema entoado contra o presidente nas ruas de Santiago e nas principais cidades do país, em jornadas praticamente diárias de protesto.;Estamos dispostos a discutir tudo, incluindo uma reforma da Constituição;, respondeu Piñera durante entrevista à emissora pública britânica BBC. A Carta aprovada em 1980, em plebiscito conduzido de maneira questionável sob a ditadura do general Augusto Pinochet (1073-1990), desenhou um sistema político-eleitoral destinado a garantir a predominância das forças conservadoras, mesmo após a redemocratização. A esquerda, em especial, atribui a essas características do modelo chileno a distância entre a sociedade e as instituições, exposta nas últimas semanas.
Apontado nas ruas como a encarnação de um sistema socioeconômico privatista, que perpetua e aprofunda desigualdades, Piñera tenta domar a explosão social provocada, em meados de outubro, pelo aumento nas tarifas do metrô, revogado dias depois, sem sucesso. Depois trocar oito dos 24 ministros e aprovar um pacote social, com aumentos de salários e aposentadorias, ontem o presidente anunciou medidas de alívio para 6.800 perquenas e médias empresas.
Ao ser questionado pela BBC sobre os clamores pela sua saída do governo, porém, o presidente respondeu com um ;não; incondicional. ;É claro que chegarei ao fim do meu governo. Fui democraticamente eleito pela grande maioria dos chilenos;, defendeu-se. ;Esses problemas se acumularam nos últimos 30 anos. Sou responsável por parte deles, e assumo minha responsabilidade, mas não sou o único.;