postado em 10/11/2019 04:06
[FOTO1]Quando o tema é vacinação, a maioria dos pais se preocupa com as imunizações que precisam ser aplicadas durante a infância dos filhos. Muitos se esquecem ou desmerecem as recomendações para a adolescência. Uma delas é contra o HPV, vírus associado ao surgimento de cânceres. Até em países em que ela é oferecida gratuitamente, como o Brasil, as taxas de adesão à vacina estão abaixo do esperado. Duas pesquisas divulgadas recentemente podem ajudar a reverter esse cenário. Os cientistas identificaram causas ligadas à baixa imunização e medidas com potencial para vencê-las (Veja arte).
Em um dos estudos, conduzido nos Estados Unidos, um dos países com baixa adesão à vacina de HPV, médicos e enfermeiros de 19 estados responderam a um questionário sobre desafios e estratégias usadas por eles para estimular a imunização de jovens. A análise das respostas mostrou que a maior barreira está relacionada à recusa e à falta de informação dos pais quanto à importância da medida.
;O pouco conhecimento é o principal entrave e, em seguida, o que agrava ainda mais é a falta de tempo para discutir a vacinação com as famílias, além da baixa presença de adolescentes nos centros de saúde;, detalha Margaret Wright, uma das pesquisadoras da American Academy of Pediatrics e autora do estudo, apresentado na última reunião da Sociedade Americana de Pediatria.
O trabalho mostra ainda que as estratégias mais eficazes usadas pelos profissionais da área para aumentar adesão estão voltadas para a educação. ;A fórmula mais relatada foi o uso de explicações esclarecedoras quanto à vacinação contra o HPV e de ferramentas para melhorar a comunicação, como cartazes e imagens. Outro ponto positivo é o uso de mensagens para relembrar a necessidade de realização da segunda dose;, detalha Margaret Wright.
O segundo estudo, realizado também por americanos, analisou a influência de vídeos educativos. Ao longo de sete meses, a equipe observou pais de 1.596 adolescentes (com idade entre 11 e 17 anos). Por meio de relatórios, descobriram que os adultos que assistiram a um vídeo educacional sobre a vacina contra o HPV enquanto aguardavam uma consulta médica apresentaram três vezes mais chances de levarem os filhos adolescentes para vacinar.
;Esse estudo procurou educar os pacientes sobre a vacina e levá-los a iniciar uma conversa com especialistas da área médica, que podem os ouvir e estão dispostos a oferecer conselhos quando solicitados;, afirma Brian Dixon, pesquisador do Regenstrief Institute, nos Estados Unidos, e principal autor da pesquisa, publicada na revista Pediatric. ;Se conseguirmos educar pacientes onde eles podem tomar medidas imediatas em prol da saúde, podemos garantir que pessoas mais elegíveis recebam a vacina, potencialmente salvando vidas e economizando no tratamento de doenças.;
Cobranças e tabus
Bárbara Alves da Silva, 38 anos, faz parte do grupo de mães que garantiu a proteção dos filhos. ;Vacinei os meus dois, o Samuel, de 13 anos, e a Nicole, de 9 anos, há alguns meses. Fui muito influenciada por uma amiga que trabalha na área médica. Ela sempre me lembra e cobra. Isso é bom porque me ajuda a não esquecer;, conta.
Para a comerciante, o alerta da colega foi essencial na medida tomada. ;Eu vejo que falta um pouco de informação entre as outras mães que conheço, mas acredito que isso ocorre pela falta de propagandas e do reforço da importância dessa vacina;, frisa. ;Na época em que eu era criança, tínhamos uma campanha maior, no colégio mesmo, era comum ser cobrado dentro da sala de aula sobre vacinações.;
Para Kelly Tirelli, psicóloga e membro do Conselho Regional de Psicologia do Distrito Federal, um dos maiores problemas relacionados a baixas taxas de imunização do HPV é a reação da sociedade a duas questões envolvidas. ;Esse tema envolve pontos polêmicos: a sexualidade e a vacinação. Hoje, muitas pessoas estão descrentes quanto à vacinação, temos dados até de baixas taxas em relação à imunização da gripe, uma das mais comuns. E no caso do HPV, ainda temos a sexualidade envolvida, que é um tabu para a nossa sociedade.;
Para a psicóloga, a tendência da maioria das famílias é evitar lidar com esse tema. ;As pessoas acham que falar sobre algo é estimular. Acreditam que, ao levar o filho para vacinar, estão permitindo e até incentivando que ele tenha uma vida sexual;, diz. Segundo Kelly Tirelli, apenas a difusão de mais informação, feita de forma adequada, pode contribuir para mudanças. ;É preciso desconstruir esses dogmas e crenças presentes na sociedade. É algo que está enraizado, mas que pode ser mudado por meio de propagandas e palestras, por exemplo. Os adolescentes ainda precisam de seus pais para que possam realizar a imunização. Por isso, é importante ter diálogo entre os familiares.;
80%
das pessoas sexualmente ativas serão infectadas com pelo menos um tipo de HPV em algum momento da vida, estima o Centro de Controle de Doenças e Prevenção (CDC)