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Falta acompanhamento médico

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 10/11/2019 04:06

Outro ponto que contribui para a baixa vacinação contra o HPV em adolescentes é a falta de atenção dessa população quanto à saúde, lembra Carina Leão de Matos, infectologista pediátrica. ;Muitos não vão a pediatras porque não se julgam mais crianças ou porque não têm acesso. Consequentemente, a informação em saúde para adolescentes não é qualificada. Quando falamos em vacinação, precisamos entender essa realidade citada porque explica a razão da baixa cobertura vacinal nesse público;, observa.

A médica ressalta que esse cenário é extremamente negativo, já que são justamente os jovens os mais infectados pelo HPV. ;É uma infecção sexualmente transmissível e, como outras enfermidades desse grupo, o pico de incidência está entre a adolescência e o adulto jovem (de 16 a 25 anos), segundo a pesquisa POP-Brasil, uma das mais recentes. A prevalência é de 54,6%, sugerindo infecção logo no início da vida sexual;, ressalta.

A médica acredita que os dados mais baixos de vacinação em relação a meninos também estão relacionadas a características comportamentais. ;Historicamente, as mulheres têm uma preocupação maior com a saúde que os homens. Isso reflete no número de vacina, associado ao fato de a vacina ter sido ampliada para o público masculino depois de instituída para o feminino, além da questão da abordagem da sexualidade na adolescência ser amplamente voltada à prevenção da gravidez não intencional, direcionando majoritariamente ao público feminino;, analisa.

Para Carina Leão de Matos, esse cenário precisa ser modificado. ;Deve-se investir não só no fortalecimento da importância da imunização e da saúde do homem, mas, principalmente no fato de a saúde sexual ser parte da saúde integral do indivíduo e pouco ser abordada;, defende. ;Os profissionais de saúde são uma peça-chave quando falamos em saúde integral, mas não a única. A escola também deve ter seu papel educativo, assim como a família. O papel do profissional de saúde é acolher, orientar quanto à prevenção ; que consiste no uso de preservativo e imunização ; e, no caso do paciente já ter sido infectado, notificar, acompanhar e tratar quando necessário. O papel da prevenção em saúde é um dos mais importantes e não pode ser esquecido.; (VS)

"Os profissionais de saúde são uma peça-chave quando falamos em saúde integral, mas não a única. A escola também deve ter seu papel educativo, assim como a família;
Carina Leão de Matos, infectologista pediátrica

Palavra de especialista

Preocupação global

;Já está mais que comprovada a eficácia da vacina do HPV na proteção a uma série de cânceres. Então, como explicamos a baixa cobertura? É o que esses investigadores mostram: o recuo dos pais. Ou o que chamamos também de movimento de hesitação. Eles têm medo, um receio de que ela possa fazer algum mal, quando isso não é verdade. É por isso que a OMS incluiu a desconfiança das vacinas como uma das 10 desafios globais a serem superados em 2019. Esse problema tem atingido o mundo todo. Para combater isso, é importante gerar mais informação, com materiais e campanhas que mostrem os benefícios da imunização ao HPV. Por ser feita em duas doses, é uma boa alternativa usar lembretes, que podem ser feitos por meio de dispositivos eletrônicos, por exemplo, para lembrar os pais de comparecerem aos centros médicos com seus filhos;

Ana Karolina Barreto Marinho, coordenadora do Departamento Científico de Imunização da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia

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