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Bolívia terá novas eleições em janeiro, promete futura presidente interina

A espera é que em 22 de janeiro o país já tenha um novo presidente eleito

Agência France-Presse
postado em 11/11/2019 18:16
[FOTO1]A futura presidente interina da Bolívia, segundo a ordem constitucional, a senadora Jeanine Añez, disse nesta segunda-feira que serão convocadas eleições depois da renúncia de Evo Morales, para que "em 22 janeiro já tenhamos um presidente eleito".

"Vamos convocar eleições com personalidades comprovadas, que realizem um processo eleitoral que reflita o desejo e o sentimento de todos os bolivianos", disse à imprensa na entrada da Assembleia Legislativa de La Paz a segunda vice-presidente do Senado, a quem corresponde a presidência interina após a renúncia de todos que estavam antes na linha de sucessão.

A renúncia de Evo Morales, que nesta segunda-feira chamou dirigentes opositores de "racistas e golpistas", deixou um vácuo de poder como resultado de três semanas de protestos desencadeados por eleições supostamente irregulares pelas quais o primeiro presidente indígena da Bolívia teria buscado se perpetuar no poder.

A secretaria geral da OEA se manifestou nesta segunda-feira contra "qualquer saída inconstitucional" e pediu ao Poder Legislativo que organize novas eleições, depois das realizadas em 20 de outubro, impugnadas pela oposição e pelo organismo regional com sede em Washington.

A oposição denunciou uma fraude eleitoral depois da interrupção abrupta da publicação dos resultados da contagem quando se antecipava um segundo turno, criando uma situação de facto na Bolívia a partir daquele momento.

Em um comunicado, o gabinete do secretário geral da OEA, Luis Almagro, pediu ao Poder Legislativo da Bolívia reunir-se "de forma urgente" para "assegurar o funcionamento institucional e nomear novas autoridades eleitorais que garantam um novo processo eleitoral".

O ex-presidente aymara de 60 anos enviou um tuíte da região cocaleira de Chapare, no centro do país, onde se refugiou após sua surpreendente renúncia no domingo, horas depois de convocar novas eleições após as "graves irregularidades" denunciadas pelos observadores de a OEA nas eleições de 20 de outubro.

"Que eles assumam a responsabilidade de pacificar o país e garantir a estabilidade política e a convivência pacífica de nosso povo", tuitou Morales.

"(O ex-presidente Carlos) Mesa e (o líder da direita Luis Fernando) Camacho, discriminadores e conspiradores, passarão para a história como racistas e golpistas", acrescentou.

- Reunião da OEA -

Sob uma garoa persistente, La Paz amanheceu na segunda-feira com menos bloqueios nas ruas do centro do que nos dias anteriores, mas com um serviço de transporte público reduzido e com a rede de teleféricos paralisada, obrigando milhares de trabalhadores a caminhar longas distâncias para chegar ao trabalho.

Muitas lojas permaneceram fechadas por medo de saques ocorridos no domingo à noite em alguns bairros na parte sul de La Paz e na cidade vizinha de El Alto.

Morales renunciou sob pressão das Forças Armadas, da polícia e da oposição, que exigiram que ele deixasse o cargo que ocupa desde 2006 para pacificar o país. Sua renúncia foi comemorada pelas ruas do país, mas houve também violência em La Paz e outras partes da Bolívia.

O presidente americano, Donald Trump, saudou a queda do líder esquerdista da Bolívia, Evo Morales, como um sinal para regimes "ilegítimos" e elogiou o papel dos militares.

"Esses eventos enviam um forte sinal aos regimes ilegítimos da Venezuela e da Nicarágua de que a democracia e a vontade do povo sempre prevalecerão", disse Trump, referindo-se a duas outras nações latino-americanas de esquerda que são alvo do governo Trump.

O desenlace foi denunciado como um "golpe de Estado" pelos governos de esquerda da América Latina, incluindo México, Cuba, Argentina, Venezuela e Uruguai.

o governo russo, também aliado de Morales, disse que ações violentas da oposição forçaram Morales a sair, enquanto a chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini e o secretário-geral da ONU, António Guterres, pediram "moderação", "responsabilidade" e novas eleições.

Países como Colômbia, Peru e Paraguai também pediram uma transição pacífica e novas eleições.

A OEA convocou uma reunião extraordinária do Conselho Permanente nesta terça, a pedido de Brasil, Canadá, Colômbia, Estados Unidos, Guatemala, Peru, República Dominicana e Venezuela, informou a OEA em comunicado.

- Debate pela sucessão -

Na ausência do presidente, a Constituição estabelece que a sucessão passa primeiro para o vice-presidente, depois para o chefe do Senado e então ao presidente da Câmara dos Deputados, mas todos renunciaram com Morales. A renúncia do vice-presidente, Álvaro García, da presidente e do vice-presidente do Senado, Adriana Salvatierra e Rubén Medinacelli, e do presidente da Câmara dos Deputados, Víctor Borda, criou uma situação de incerteza na linha de sucessão constitucional.

A segunda vice-presidente do Senado, a opositora Jeanine Añez, reivindicou seu direito de assumir a presidência da Bolívia. "Ocupo a segunda vice-presidência e, na ordem constitucional, me corresponderia assumir esse desafio com o único objetivo de convocar novas eleições", disse Añez, entrevistada pela rede de televisão privada Unitel.

Não está claro qual será o destino do ex-presidente. Morales disse que não deixará a Bolívia, mas o México já lhe ofereceu asilo. O ministro das Relações Exteriores mexicano Marcelo Ebrard informou que "20 personalidades do executivo e legislativo boliviano" se asilaram na embaixada mexicana em La Paz.

A polícia, que está praticamente paralisada desde o início dos tumultos na sexta-feira, voltou ao trabalho nesta segunda-feira. "Vamos com certeza dar segurança à população da zona sul" de La Paz, disse o comandante geral da polícia, general Vladimir Yuri Calderón, ao canal ATB.

Morales, politicamente forjado como sindicalista da coca, defendeu seu legado que, segundo ele, trouxe progresso econômico e social a uma das nações mais pobres da América Latina. "Estamos deixando a Bolívia com muitas conquistas sociais", disse na renúncia .

Após a renúncia, a polícia prendeu a presidente do Supremo Tribunal Eleitoral (TSE), María Eugenia Choque, e outros responsáveis por esse órgão, por ordem do Ministério Público, que investiga irregularidades cometidas nas eleições.

"No momento, temos 25 detidos" entre os membros do Supremo Tribunal Eleitoral e os tribunais eleitorais regionais, por ordens do MP", disse o general Yuri Vladimir Calderón à AFP.

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