Agência France-Presse
postado em 12/11/2019 20:26
[FOTO1]A senadora Jeanine Añez se proclamou nesta terça-feira presidente interina da Bolívia, em uma sessão legislativa que não contou com o quórum em nenhuma das Câmaras, em uma tentativa de preencher o vácuo no poder deixado com a renúncia do presidente Evo Morales.Añez, segunda vice-presidente do Senado, havia se autoproclamado momentos antes presidente da Câmara Alta, por conta da ausência da titular da instituição e do primeiro vice-presidente, supostamente exilados na embaixada de México na Bolívia.
"Queremos convocar novas eleições o mais cedo possível (...), com autoridades probas, de mérito, de capacidade, que sejam independentes", disse a nova presidente em discurso no Congresso, ao qual só assistiram legisladores contrários a Morales.
Os senadores da bancada de Morales - que controlam o Senado - exigiam garantias de segurança para se apresentar na sessão encarregada de eleger seu sucessor, após a violência das últimas três semanas.
A conservadora Añez, 52 anos, foi em seguida para a Casa de Governo, onde com a Bíblia na mão declarou: "É um compromisso que assumimos com o país, e vamos honrá-lo".
A Constituição estabelece que, após a renúncia do presidente Evo Morales (domingo), o vice-presidente, o presidente do Senado ou o presidente da Câmara dos Deputados deve assumir a sucessão, mas todos também renunciaram a seus cargos.
O candidato centrista Carlos Mesa felicitou a "nova Presidente Constitucional da Bolívia Jeanine Añez".
"Nosso país se consolida com sua posse, sua vocação democrática e sua valentia de gestora popular legítima, pacífica e heroica. Todo sucesso ao desafio que se apresenta. Viva a Pátria!!".
O líder regional de Santa Cruz (leste) Luis Fernando Camacho declarou que apoia Añez e que determinou a "suspensão das medidas" de protesto, como a greve e os bloqueios de rua.
Morales, asilado no México depois de sua tentativa frustrada de se manter na presidência por mais de 13 anos por meio de eleições consideradas irregulares pela oposição e observadores da OEA, declarou que "enquanto eu tiver vida, continuarei na política; enquanto eu estiver no trem da vida, a luta continua".
Morales chegou ao México em um avião da Força Aérea que o pegou na Bolívia, em um trajeto pontuado por mudanças de última hora por parte de vários governos, que afetaram o plano de voo inicialmente previsto.
- Golpe ou farsa eleitoral? -
A Bolívia estava mergulhada no vácuo de poder desde domingo, quando Morales renunciou em meio a protestos, pressão das forças de segurança e sindicais e à violência desde as eleições de 20 de outubro.
Nesse dia, a oposição denunciou uma fraude eleitoral devido à interrupção abrupta da publicação dos resultados da contagem rápida no momento em que começaram a apontar para o segundo turno.
Morales, seus apoiadores do Movimento ao Socialismo (MAS) e vários países da América Latina - entre eles o México, o governo eleito da Argentina, Cuba, Venezuela e Uruguai - denunciaram como um "golpe de Estado" as pressões dos militares contra o presidente, acusado de fraude eleitoral.
Já o Brasil rejeitou a tese de golpe. "A repulsa popular após a tentativa de estelionato eleitoral (constatada pela OEA), o qual favoreceria Evo Morales, levou à sua deslegitimação como presidente e consequente clamor de amplos setores da sociedade boliviana por sua renúncia", afirmou chancelaria.
- Novas eleições -
As ruas de La Paz amanheceram nesta terça-feira paralisadas, sem transporte público. Isso dificultou a chegada de senadores de outras partes do país a La Paz.
Añez disse na segunda-feira que já há um calendário. "Acho que a população grita para que em 22 de janeiro já tenhamos um presidente eleito".
Quinze membros da Organização dos Estados Americanos (OEA) pediram nesta terça-feira a realização de novas eleições "o mais cedo possível; na Bolívia.
Brasil, Argentina, Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, Estados Unidos, Guatemala, Guiana, Honduras, Panamá, Paraguai, Peru e Venezuela (representada por um delegado do líder opositor Juan Guaidó) fizeram o apelo durante reunião extraordinária do Conselho Permanente da OEA em Washington.
Em uma declaração, os quinze países pediram que a definição da Presidência provisória na Bolívia deve ocorrer "urgentemente", como prevê a Constituição boliviana.
O grupo também solicita que se "inicie o processo de convocação de eleições o mais cedo possível, com garantias expressas de que o processo eleitoral ocorra com justiça, liberdade, transparência e respeito à vontade soberana do povo boliviano".
- Convulsão social -
Na segunda-feira, grupos de descontentes recorreram à violência em Cochabamba (centro) e El Alto, cidade vizinha de La Paz, onde queimaram unidades policiais e feriram civis e policiais.
Na noite de segunda-feira, centenas de apoiadores de Morales, que chegaram a La Paz de El Alto, protestaram em frente à sede do governo.
A polícia de La Paz solicitou apoio dos militares, que anunciaram operações conjuntas.
O ex-presidente aimara renunciou no domingo, horas depois de convocar novas eleições, tentando sanar as "graves" irregularidades denunciadas pelos observadores da Organização dos Estados Americanos (OEA) nas eleições.
Os militares, a polícia e a oposição exigiram que ele deixasse o cargo.
Morales deixou o poder defendendo um legado que, segundo ele, levou o progresso econômico e social a uma das três nações mais pobres da América Latina.