postado em 14/11/2019 04:15
[FOTO1]Um dia depois de liderar uma greve geral contra o presidente Sebastián Piñera, com adesão parcial e mais uma noite de violência nas ruas de Santiago, uma coalizão informal entre organizações sindicais, movimentos sociais e partidos de oposição subiu o tom na exigência pela substituição da Constituição legada pela ditadura do general Augusto Pinochet. A Mesa Social, que reúne a Central Unitária de Trabalhadores (CUT) e comandou a paralisação acena com nova greve, dessa vez por tempo indeterminado, caso Piñera não acate a demanda pela eleição de uma Assembleia Constituinte com poderes para redigir a nova Carta.
;O caminho para se chegar à paz social somente se constrói ouvindo as demandas das maiorias, e isso é Assembleia Constituinte;, disse a presidente da CUT, Bárbara Figueroa, respondendo ao mandatário. O presidente voltou a mencionar, na noite de terça-feira, a ;profunda reforma; do texto constitucional, mas não a convocação de um poder eleito com essa missão determinada. Em declaração conjunta, 14 forças de oposição ; incluindo socialistas, comunistas, a esquerda radical e a democracia cristã ; também rejeitaram a fórmula defendida até aqui por Piñera. ;Essa opção se afasta da demanda popular por participação e deliberação;, afirma o texto.
Pior para o presidente, o delicado tema da revisão constitucional não consegue unificar sequer o campo político das forças que o apoiam. Seu partido, a Renovação Nacional, manifestou apoio a um ;caminho constitucional consensual; e pediu ;posições flexíveis; aos demais atores de crise. A direitista União Democrática Independente (UDI), que tem origem em setores próximos ao regime militar de 1;973-1990, se mostrou resistente a qualquer processo e indicou que não se coloca ;disponível; para negociações enquanto não cessar a violência nas ruas.
A crise mais aguda e profunda vivida pelo mais nos 30 anos desde a volta da democracia se aproxima de completar um mês com o saldo de 21 mortos ; nos incidentes dos primeiros dias, que envolveram também saques ao comércio ;, centenas de feridos e mais de 1.500 detidos em manifestações praticamente diárias. O estopim dos protestos foi um aumento na tarifa do metrô, que deflagrou uma noite de ataques, incêndios e depredação de estações. Piñera decretou estado de emergência e colocou os militares nas ruas pela primeira vcz desde a saída de Pinochet, além de revogar o reajuste da tarifa, mas o movimento não cedeu.
Sem uma direação política clara, os manifestantes passaram a estender os ataques a todo o modelo socioeconômico herdado da ditadura, de perfil privatista. Em especial, elegeram como alvos os custos elevados da educação e da saúde e os baixos valores de salários e aposentadorias. A Constituição de 1980, aprovada em plebiscito realizado com a oposição sob severas restrições, não define como dever do Estado garantir à população os serviços essenciais e a proteção social. O texto foi objeto de várias alterações limitadas, mas a última tentativa de muda-la, no segundo mandato presidencial da socialista Michelle Bachelet (2014-2018), esbarrou na falta de consenso político e não decolou.