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Turbulência no início de governo

No primeiro dia da gestão de Jeanine Áñez, parlamentares do Movimento ao Socialismo são impedidos de se aproximar do Congresso. Na Cidade do México, ex-presidente Evo Morales promete regressar para pacificar o país e denuncia golpe

postado em 14/11/2019 04:15
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O caminho da Bolívia rumo à pacificação se desenha longo e tortuoso, a julgar pelo primeiro dia do controverso governo de Jeanine Áñez, a senadora que se proclamou presidente do país na noite de terça-feira, mesmo sem quórum de congressistas do Movimento ao Socialismo (MAS) ; leais ao ex-mandatário Evo Morales. Forças de segurança impediram os parlamentares da legenda de entrarem na Plaza Murillo, sede da Assembleia Legislativa Plurinacional (ALP) e usaram gás de pimenta, quando os políticos tentaram avançar aos gritos de ;Golpe! Golpe! Golpe!”. Ex-presidente do Senado, Adriana Salvatierra pretendia reassumir o controle da casa e ascender ao poder. Os confrontos entre a polícia e manifestantes pró-Morales se espalharam por La Paz. Segundo a agência de notícias France-Presse, um homem foi morto durante os protestos de ontem. Em 23 dias de convulsão social, desde as eleições suspeitas de fraude, sete pessoas perderam a vida.

Em entrevista coletiva no Palácio Quemado, Áñez descartou um golpe de Estado na Bolívia e explicou que sua condução ao cargo se deveu a uma ;reposição constitucional;. ;O único golpista deste país foi Evo Morales;, declarou, em referência ao ex-presidente indígena que renunciou no último domingo. A nova presidenta interina advertiu que não aceitará qualquer saída que não sejam eleições democráticas e designou nova cúpula militar, chefiada pelo general do Exército Sergio Carlos Orellana.

Por sua vez, Evo Morales concedeu sua primeira entrevista na condição de asilado, na Cidade do México, e prometeu regressar à Bolívia para ;pacificar; o país. ;Se meu povo pedir, estamos dispostos a voltar para apaziguar, mas é importante o diálogo nacional;, defendeu. ;Vamos voltar cedo ou tarde. Quanto antes, melhor, para pacificar a Bolívia;, acrescentou. Ele propôs que ;países amigos; participem do diálogo nacional, o qual qualificou como ;importante;. ;Sem diálogo nacional, estou vendo que vai ser difícil deter este confronto.; O ex-líder indígena e cocaleiro também apelou aos militares a ;não usar tiros contra o povo;. Ao comentar a ascensão de Jeanine ao poder, Morales disse que foi ;a confirmação do golpe; e um ato fora da legalidade.

Diálogo
Por telefone, o senador boliviano Omar Paul Aguilar Condo, integrante do MAS, afirmou ao Correio que o partido não pretende tomar nenhuma medida contrária a Áñez. ;Hoje, nosso dever constitucional e patriótico é o de convocar o diálogo e a pacificação de todo o país. Existem setores muito fortes, afins ao MAS, que tomaram a decisão de se mobilizar depois da queima da bandeira whipala ; símbolo pátrio e dos povos indígenas ; e do tratamento preconceituoso;, comentou. ;Nós cremos que o tempo é de diálogo e de desejo sincero de pacificiar a nação.;

De acordo com Aguilar, grupos indígenas seculares marcham há três dias da cidade de El Alto rumo a La Paz, animados pelo calor do momento político boliviano. ;Nós queremos evitar maior enfrentamento. Nossa pretensão é a de buscar todos os atores políticos e chegar a acordos importantes, assim que nossa célula de trabalho da ALP puder atuar com normalidade;, disse. O senador denunciou ter sido golpeado pelos policiais. ;Acho que estão cometendo abusos por ordens do regime;, lamentou. Ao ser questionado sobre se a Bolívia foi palco de um golpe, Aguilar respondeu que prefere não fazer comentários a respeito. ;Estou na linha de pacificar o país e vou me centrar nisso. Estou buscando as aproximações necessárias com Jeanine e seus asseclas.;

UE avaliza governo
e defende eleições


A chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, defendeu a proclamação de Jeanine Añez como presidente interina da Bolívia como uma maneira de se ;evitar o vácuo de poder; e pediu a ;convocação de eleições;. ;A União Europeia (UE) apoia uma solução institucional que permita que haja um governo interino que prepare novas eleições e evite um vácuo de poder que pode ter consequências para todo o país;, disse Mogherini sobre o processo de sucessão após a renúncia de Evo Morales. Ela Mogherini defendeu também ;novas eleições; para se ;preservar os progressos; registrados sob a presidência de Morales, como a redução da pobreza, a integração da população indígena e a melhoria dos serviços.


Eu acho...

;Nós pretendíamos chegar à Plaza Murillo para cumprir com nossos trabalhos legislativos. A polícia boliviana usou gás lacrimogêneo e não permitiu o nosso direito, como congressistas, de trabalhar normalmente na Assembleia Legislativa Plurinacional. Sofremos, hoje (ontem), uma violação de nossos direitos enquanto pessoas e autoridades nacionais.;


Omar Aguilar, senador pelo partido Movimento ao Socialismo (MAS), de Evo Morales

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