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Jeanine Áñez no gabinete contra evo Morales exilado no México

Agência Estado
postado em 14/11/2019 09:24
Onde está o poder em uma Bolívia em crise? Jeanine Áñez, a senadora de oposição que se declarou presidente interina do país andino, parece contar com o apoio da polícia, do Exército e da Igreja. Mas até mesmo em seu exílio no México após renunciar por pressão das Forças Armadas, o ex-presidente Evo Morales disse que estaria disposto a voltar à Bolívia. Seus seguidores permanecem nas ruas em uma demonstração de força e seu partido ainda tem maioria na Câmara dos Deputados e no Senado. A vida voltou à normalidade por um breve período na quarta-feira de manhã, horas depois que Jeanine assumiu o poder. Os inimigos de Evo celebraram o momento balançando bandeiras bolivianas antes de levantar os bloqueios instalados nas rodovias de todo o país. Os comerciantes levantaram as portas de metal que serviam de barreira contra saqueadores, e o transporte público voltou a funcionar normalmente em La Paz. Contudo, horas mais tarde, novos enfrentamentos violentos entre apoiadores de Evo e a polícia da capital foram registrados e se estenderam até de noite. Os seguidores do ex-presidente também saíram às ruas na cidade de El Alto, perto de La Paz e bastião de Evo, com a bandeira indígena colorida e gritando "Agora, guerra civil". No centro de La Paz, os manifestantes lançavam pedras e arrancavam placas de metal e tábuas de madeira para usar como armas. Policiais respondiam com bombas de gás lacrimogêneo enquanto aviões de combate sobrevoavam a região. Esse cenário de violência é um indício dos problemas que Jeanine terá de enfrentar. Os desafios de Jeanine Áñez A senadora precisa obter reconhecimento, organizar novas eleições dentro de 90 dias, além de estabilizar e reconstruir o país após semanas de protestos violentos contra Evo depois de ele ter sido considerado vencedor das eleições de 20 de outubro, as quais foram marcadas por denúncias de fraude. Os distúrbios e a erosão do apoio a Evo levaram o primeiro presidente indígena do país a fugir para o México depois de passar quase 14 anos no poder. "Se o movimento social indígena vê isso como um esforço da velha elite para restaurar a velha ordem na sociedade boliviana, acredito que esta é a receita para um grande conflito político", afirma Kenneth Roberts, professor da Cornell University, em Nova York. O 'possível para pacificar' Evo mudou a política de seu país, governando durante décadas por descendentes de europeus de pele clara, ao reverter a profunda desigualdade social. A economia cresceu com força graças ao aumento do preço dos produtos básicos. Além disso, promulgou uma nova Constituição que deu origem a um Congresso com cadeiras reservadas para minorias indígenas. Ainda que alguns de seus seguidores tenham se mostrado descontentes por sua insistência em se manter no poder, Evo segue sendo uma figura popular, especialmente entre os indígenas aimará, grupo étnico ao qual pertence. Muitos deles estão preocupados com a possibilidade de perder os benefícios alcançados e protestam em razão de relatos de que a bandeira colorida que os representa foi queimada por opositores. A manifestante Magenta Villamil lamenta que os "mais de 13 anos de avanços com Evo se perderam em um minuto" com sua renúncia. Incerteza política Jeanine também enfrenta um desafio no Congresso, onde os legisladores leais a Evo questionam cada vez mais a sua legitimidade e tentam convocar novas sessões que possam minar seu pedido para conduzir a presidência. As sessões, rejeitadas pelo grupo de Jeanine, ressaltaram a incerteza política no país. Os partidários de Evo, que têm maioria de dois terços no Congresso, boicotaram a reunião convocada na noite de terça-feira por Jeanine para formalizar sua reivindicação, impedindo que houvesse quórum. No entanto, a senadora seguiu adiante com o processo alegando que a Constituição não requer especificamente a aprovação da Câmara. O alto tribunal boliviano emitiu um comunicado no qual apresentou a justificativa legal para o pedido de Jeanine, ainda que não tenha mencionado o nome dela. Alguns especialistas questionaram os mecanismos que levaram ao pedido dela e destacaram que ao menos um dos passos exigia uma reunião do Congresso. Eduardo Gamarra, cientista político boliviano na Florida International University, disse que a Constituição estabelece claramente que Jeanine não necessita do voto dos deputados para assumir o cargo. Porém, os próximos meses "serão extraordinariamente difíceis para a presidente Áñez", acrescentou. A dirigente terá que formar um novo tribunal eleitoral e encontrar funcionários apartidários para o gabinete, além de fazer com que o Congresso - que está nas mãos do partido Movimento ao Socialismo (MAS), de Evo - vote a favor de antecipar as eleições. Apoio A crise no país se agravou no domingo, quando uma auditoria da Organização dos Estados Americanos (OEA) relatou irregularidades na votação de 20 de outubro e pediu um novo pleito. Evo aceitou estabelecer uma nova data para isso, mas horas depois renunciou após o general Williams Kaliman, comandante das Forças Armadas, insistir que ele deixasse o cargo "pelo bem da Bolívia". Kaliman havia sido leal a Evo, mas tanto o ex-presidente como a oposição qualificaram a ação como um golpe de Estado. Jeanine fez o juramento de seu governo e empossou o novo comando das Forças Armadas. A medida foi vista como um esforço para formar uma aliança com o Exército. A autodeclarada presidente também recebeu o apoio do principal rival de Evo nas eleições de outubro, o ex-presidente Carlos Mesa, que ficou em segundo lugar. Ainda não está claro quanto apoio ela receberá em outros centros de poder do país. A iniciativa dela, no entanto, teve certo respaldo internacional, como EUA e Brasil. Mas na Argentina, onde há uma grande população boliviana, deputados e senadores condenaram o que consideraram um golpe de Estado. No México, Evo se comprometeu a manter um papel ativo na política boliviana enquanto os prefeitos leais a ele nas áreas rurais seguem mobilizando grandes massas. Em uma entrevista coletiva na Cidade do México, ele afirmou que "se o povo pede por mim, estamos dispostos a voltar".

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