Agência France-Presse
postado em 14/11/2019 16:18
[FOTO1]A presidente interina da Bolívia, Jeanine Áñez, tentava nesta quinta-feira (14/11) avançar na pacificação do país depois de assumir o poder dois dias atrás, após a renúncia e exílio de Evo Morales no México, em meio a protestos que deixaram 10 mortos.
"Viemos pacificar o país", declarou nesta quinta-feira o novo ministro da Defesa, Fernando López Julio, em um ato no Colégio Militar de La Paz, no dia seguinte de Áñez nomear os primeiros 11 membros de seu gabinete ministerial.
"Teremos que levar a fé posta em Deus", acrescentou López, repetindo uma invocação religiosa de Áñez e dos dirigentes cívicos que lideraram os protestos pela renúncia de Morales depois de sua questionada reeleição nas eleições de 20 de outubro, nas quais a Organização de Estados Americanos (OEA) apontou irregularidades.
La Paz amanheceu pelo segundo dia quase em completa normalidade, embora as aulas nas universitárias estejam suspensas e muitos pais tenham decido não enviar seus filhos às escolas por medo da violência.
Parte considerável do transporte público funciona normalmente, embora os acessos da praça Murillo, onde fica a sede do governo, continuem fechado por barricadas custodiadas pela polícia.
Na zona sul da cidade, foram retiradas todas as barricadas que por mais de três semanas atrapalharam o trânsito como parte dos protestos para conseguir a renúncia de Morales, primeiro presidente indígena da Bolívia, que governou por quase 14 anos.
Na tarde de quarta-feira a tentativa de voltar à calma foi frustrada em La Paz com a chegada da grande marcha de apoiadores de Morales da cidade vizinha de El Alto, que entraram em choque com a Polícia perto da praça Murillo, enquanto Áñez dava posse no Palácio Quemado à nova cúpula militar.
Os confrontos se estenderam até à noite e terminaram com cerca de vinte detidos, segundo a imprensa local. Segundo dados oficiais, as quase quatro semanas de protestos deixaram 10 mortos e cerca de 400 feridos.
Inicialmente os manifestantes eram adversários de Morales, mas desde domingo, após a renúncia, são seus partidários que saem às ruas, enfrentando a Polícia.
- Reclamação por atividade de Morales -
Áñez anunciou na quinta-feira que apresentará uma reclamação diplomático ao México por permitir atos políticos de Morales.
"Temos uma chanceler (Karen Longari) que fará a representação que corresponda à ruptura desse protocolo" de asilo político, disse em coletiva de imprensa.
Do exílio no México, Morales pediu a organismos internacionais, como a ONU, e à Igreja Católica, por meio do papa Francisco, que acompanhem um "diálogo para pacificar" a Bolívia.
"A violência atenta contra a vida e a paz social", escreveu no Twitter Morales, que renunciou pela pressão das Forças Armadas em meio a violentos protestos que eclodiram após as eleições de outubro.
Na quarta-feira, Morales também pediu a policiais e militares para não "usar bala contra o povo" e se declarou disposto a voltar para "pacificar" o país.
O ex-presidente boliviano Carlos Mesa (2003-2005), segundo lugar nas eleições, também criticou o México por permitir atividades políticas de Morales.
"Pedimos que esse governo (mexicano) não permita ao senhor Morales continuar fazendo uma política divisionista".
- Relação com o Congresso -
O novo ministro de governo (interior), Arturo Murillo, anunciou ao assumir una "caça" ao ex-ministro da presidência de Morales, Juan Ramón Quintana, "porque ele é um animal que se alimenta de sangue", embora Ánez tenha feito um discurso conciliador, afirmando que ninguém será perseguido.
Um desafio para Áñez será a relação com o Congresso, onde o Movimento ao Socialismo de Morales goza de ampla maioria. Nesta quinta-feira, Áñez o acusou de "continuar incitando até agora a violência" e pediu que ele colabore para a normalização do país.
Áñez disse que seu único "norte" é convocar novas eleições, para o que precisa nomear sete membros do Tribunal Supremo Eleitoral, que devem ser ratificados pelo Congresso.
Na sessão da última quarta-feira, a Câmara dos Deputados elegeu como seu novo presidente o socialista Sergio Choque.
O Senado não se reúne desde terça-feira, em uma sessão sem quórum regulamentar na qual Áñez se proclamou presidente interina. O Tribunal Constitucional a chancelou e as Forças Armadas e a Polícia declararam sua lealdade a ela.
- Reconhecimento a Guaidó -
Em sua primeira medida internacional, Áñez reconheceu o líder opositor Juan Guaidó como presidente da Venezuela, rompendo a aliança com Nicolás Maduro de Morales.
Maduro denunciou um "golpe de Estado" contra seu aliado.
Na quarta-feira, os Estados Unidos reconheceu Áñez, assim como a Guatemala, a Colômbia e até mesmo a Rússia, com algumas ponderações. A chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, pediu que se evite "um vácuo de poder que possa ter consequências para todo o país".
O secretário-geral da ONU ressaltou nesta quinta-feira a necessidade de celebrar novas "eleições transparentes" na Bolívia após o asilo do ex-presidente Evo Morales no México, e designou um enviado para o país andino.