postado em 15/11/2019 04:05
[FOTO1]Hong Kong chega ao fim de semana com a expectativa de um toque de recolher imposto pelas autoridades, depois de uma madrugada marcada por protestos violentos que deixaram marcas em vários pontos da cidade, em especial nas imediações da universidade. Com vias públicas ainda interditadas e as aulas suspensas nas faculdades e nas escolas, o jornal em língua inglesa Global Times, afinado com o regime comunista de Pequim, publicou no Twitter a notícia de que o governo do território poderia decretar a medida de exceção. O anúncio não foi confirmado nem desmentido pelas autoridades e foi retirado pelo jornal.
A explosão de violência no quarto dia consecutivo de uma nova onda de manifestações pela democracia, com repetidos confrontos entre ativistas e as forças de segurança, foi tema de um duro comentário do presidente Xi Jinping, que estava em Brasília para a cúpula do Brics ; bloco que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Falando ao diário chinês controlado pelo Partido Comunista, o Diário do Povo, Xi condenou as ;atividades ilegais e violentas; em Hong Kong. Advertiu que os distúrbios dos últimos dias ;pisotearam severamente o Estado de direito e a ordem social; na cidade e ;desafiaram seriamente o princípio de ;um país, dois sistemas;;.
Segundo esse lema, que foi a base para a reincorporação do território à soberania da China, em 1997, após um século e meio como colônia britânica, Hong Kong preservou o sistema econômico capitalista e uma autonomia administrativa limitada, mas com o governo local sob controle estrito de Pequim. Desde o fim de novembro, porém, a cidade vive uma série de manifestações pela democracia, e o presidente chinês frisou ontem que o regime comunista ;dá um apoio firme; ao governo local e que ;pôr fim à violência e restaurar a ordem são as tarefas mais urgentes;.
Depois de mais de cinco meses, o movimento de protesto na ex-colônia britânica começou a aplicar nesta semana a nova tática chamada de ;eclosão em todos os lugares;, que consiste em ações simultâneas em vários pontos do território. As manifestações são conduzidas por pequenos grupos, formados principalmente por estudantes. Ontem, várias avenidas foram bloqueadas com barricadas. Um dos três túneis expressos do território foi fechado, ao mesmo tempo em que várias estações de metrô e linhas de ônibus estavam fora de serviço. Com isso, boa parte da cidade de 7,5 milhões de habitantes ficou paralisada.
As autoridades determinaram que escolas e universidades não abram as portas a partir da próxima semana. Os hospitais adiaram cirurgias não emergenciais e muitas lojas ficaram fechadas. O governo de Hong Kong pediu às empresas que tenham ;compreensão; com os funcionários que não conseguirem chegar ao local de trabalho. Na hora do almoço, muitas pessoas participaram de novos atos de protesto. Na região central, sede de várias empresas estrangeiras, milhares de pessoas bloqueavam as ruas.
Violência
A tensão retornou a Hong Kong há uma semana, com a morte do estudante Alex Chow, 22 anos. Outro jovem, baleado pela polícia na segunda-feira, continuava hospitalizado em estado crítico. Ontem morreu um homem de 70 anos atingido por um tijolo durante os confrontos entre manifestantes e a polícia. Em mensagem publicada no Facebook, as autoridades de Hong Kong acusaram ;os amotinados; de lançar flechas contra os agentes. Estudantes começaram a usar catapultas artesanais, arcos, flechas e raquetes de tênis, para rebater as granadas de gás lacrimogêneo. No câmpus universitário, ativistas construíram muros e barricadas de cimento para bloquear o avanço da tropa de choque.
;As atividades ilegais e violentas (em Hong Kong) pisotearam o Estado de
direito e a ordem social e desafiaram o princípio de um país, dois sistemas;;
Xu Jinping, presidente da China
Hino vaiado
pela torcida
Os torcedores da seleção de Hong Kong vaiaram o hino da China antes de uma partida disputada pelas eliminatórias da Copa de 2022 no Catar-2022 contra o Barein. O jogo foi disputado no território semiautônomo em meio à crise política que se prolonga por quase seis meses, com manifestações quase diárias por democracia. As imagens que circularam pelas redes sociais mostram torcedores de Hong Kong vaiando o hino antes de pontapé inicial, com os dois times perfilados. O jogo, confirmado apesar do clima de violência na cidade, terminou empatado em 0 a 0. Os protestos já provocaram o cancelamento de outros eventos esportivos, como o torneio feminino de tênis, que deveria ter sido disputado em setembro último.